sábado, 25 de junho de 2011

Memória Pano, Geoglifos e o Paititi

Mapa do Império do Brasil onde consta o Rio Juruá como o antigo Amarumayu dos Inkas (fonte: Eldorado - Colombia)

No Brasil geoglifos podem ser encontrados, principalmente na região do Vale do Acre, entre os rios Acre, Iquiri e Abunã, na rota que vai de Rio Branco à Xapuri (já foram encontrados também em outras regiões do Acre, em Rondonia e no Rio Grande do Sul). Nesta região, foram encontrados apenas geoglifos geométricos - círculos, quadrados, retângulos e espirais.
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Os geoglifos acreanos foram descobertos no final da década de 70, quando o avanço das frentes de expansão agrícola do sul do Brasil rumo à Amazônia retirou a cobertura florestal de milhares de quilômetros quadrados. Essa mudança na paisagem possibilitou observar a existência de desenhos geométricos escavados em baixo relevo.
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Em 1977, como parte do inventário do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica (PRONABA), foi registrada pela primeira vez, nas imediações da sede da Fazenda Palmares, a ocorrência de estruturas de terra de forma geométricas, posteriormente chamadas de geoglifos. As pesquisas do PRONAPABA no Acre, coordenadas pelo do Prof. Dr. Ondemar Ferreira Dias Junior da UFRJ, contaram com a participação de Franklin Levy do IAB e Alceu Ranzi da UFAC.
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Atualmente estão registrados 110 pontos de ocorrência de Geoglifos no Estado, totalizando a existência de 138 figuras, distribuídas em uma área de 270 quilômetros entre Xapuri e Boca do Acre, no sul do Amazonas. Acredita-se que apenas 10% do total presumível de geoglifos foram localizados até agora, em parte devido à densidade da vegetação. Eles ainda são um grande mistério para os pesquisadores, mas crescem as possibilidades de terem sido construídos por uma civilização que viveu entre 800 e 2000 anos atrás.
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Sendo assim, o que esperamos as pesquisas arqueológicas permitirão revelar, em especial nos geoglifos que foram menos destruídos por antropismos, é que houvessem relações entre os habitantes desse complexo civilizatório de selva e o Império dos Inkas.
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- ¿Dónde está el Inca? - perguntara um espanhol. (Onde está o Inca?)
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- El Inca, la corona y muchas otras cosas más - respondera - están en la unión del rió Paititi y el rió Pamara (desaparecidos en el tiempo) a tres días del río Manu. (O Inca, a coroa e muitas coisas mais estão na união do rio Paititi e do rio Pamara (desaparecidos no tempo) a três dias do rio Manu.)
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Durante a febre de ouro da conquista espanhola do antigo Império do Tawantinsuyu, um dos comandantes, Pedro de Candia, lugar-tenente de Francisco Pizarro, foi o primeiro a aventurar-se pela floresta do Madre de Dios, procurando uma cidade de ouro chamada Ambaya. Saiu de Paucartambo no ano de 1538 com seicentos homens, avançando na selva tropical por cerca de 150 quilômetros. No entanto, foi atacado por ferozes nativos que o fizeram retornar a Cusco. Contava a lenda que havia uma cidade ali, a dez dias a leste de Cusco, fundada pelos deuses e que era irmã gêmea da capital do Império Inca - o nome quíchua Paikikin significa "igual a". Segundo essa crença existiria, ainda hoje, uma cidade subterrânea, no subsolo, em plena atividade. O senhor de Paititi (chamada assim pelos espanhóis), depositário da sabedoria oculta de uma civilização muito antiga, estaria esperando o momento certo de voltar ao mundo "de fora" para restabelecer a ordem que se rompeu no passado.
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Em 2001 o arqueólogo italiano Mario Polia descobriu, nos arquivos do Vaticano, uma importante carta que faz parte da História Peruana, uma coleção de volumes escritos entre 1567 a 1625. O manuscrito, do qual se desconhece autor e data, descreve a narração feita pelo jesuíta Padre Andrea Lopez ao Padre Geral da Companhia de Jesus (Claudio Acquaviva, de 1581 a 1615, ou Muzio Vitelleschi, de 1615 a 1645), provavelmente nos primeiros anos do século XVII, e foi enviado ao Papa Clemente VIII. Além de descrever uma cidade que seria Paititi, relata um "milagre" ocorrido lá e a conversão de pessoas vinda do Reino de Paititi.
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Serge Huhn, em "Homens e Civilizações Fantásticas" (Hemus, 1971), assinala as pesquisas dos esoteristas europeus sobre o Paititi:
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"O segredo dos Andes : tal é o titulo de uma obra inglesa muito curiosa (...) , obra de alto dignitário de diversas sociedades secretas iniciáticas , entre elas a Ordem Antiga da Ametista e a Ordem da Mão Vermelha - dois ramos sob a proteção dos Rosa-Cruzes. O autor, conservando o anonimato, revela apenas o seu prenome: "Irmão Philippe". Este testemunho extraordinário traz incriveis revelações sobre a sobrevivência secreta, na América pré-colombiana, de toda a herança espiritual, cientifica e oculta, tanto da Lemúria quanto da Atlântida. O saber dessas duas civilizações lendárias estaria conservado na cidade perdida. Sabemos assim o que era o gigantesco disco de ouro translúcido que está conservado no templo mais sagrado dos Incas, suspenso ao teto por cordas de ouro puro. Este disco provinha da antiga Lemúria, de onde teria trazido por um casal divino em uma nave aérea chamada Agulha de Prata.
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"Diante dêsse disco, sobre um altar de pedra , brilhava a luz branca eterna da chama cristalina Maxin, a luz divina ilimitada da criação. Este disco não era sómente  objeto de adoração e a representação simbólica do Sol, mas também instrumento cientifico cuja pujança era segredo da antiga raça dos tempos passados. Usado  em conexão com um sistema de espelhos de ouro puro, de refletores e de lentes, curava os doentes que estavam no templo de luz. Além disso, era um ponto focal de concentração de qualidade dimensional; batido de certo modo, emitia vibrações que podiam provocar terremotos e mesmo mudança na rotação da Terra. Regulado no comprimento de onda de um indivíduo, particular, permitia-lhe transportar-se para tôda parte que quisesse, simplesmente pela representação mental do lugar a que desejasse ir".
Os espanhóis jamais puderam apoderar-se do disco de ouro; encontraram o templo vazio. O disco tinha sido cuidadosamente escondido num monastério subterrâneo dos Andes, situado perto do lago Titicaca. Ali estaria ainda.
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Em 1957, a Ordem da Mão Vermelha enviou uma expedição arqueológica , sob a direção do "Irmão Phillipe". Após ter estudado metódicamente o planalto de Marcahuasi , de estranhos rochedos esculpidos , esta expedição se dirigiu para o Este, em direção das cidades misteriosas de Paititi , para as cidades atlantes escondidas no coração do "Inferno Verde" da selva sul-americana. A 10 de julho de 1957 ela descobriu ruinas fantásticas, com extraordinários monumentos, como uma rocha toda coberta de inscrições em lingua desconhecida, e petroglifos. Uma das figuras simbólicas representava um rapaz com capacete mostrando o Ocidente, direção da cidade perdida e da Atlântida submersa. As lendas da tribo Machiguenga , tribo indigena que ocupa o território onde se encontraram as ruinas, indicavam  -   pormenor capital  -   contatos que seus antepassados tiveram com os "povos do céu" ; eles narravam a série de catastrofes que se tinham produzido no curso dêsse longinquo passado, época sem dúvida do afundamento da Lemúria, do levantamento dos  Andes e de Tiahuanaco a muitos milhares de metros acima do nivel do oceano à margem do qual tinha sido construida a "cidade dos gigantes".
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A procura dessa civilização perdida nunca cessou. Só nos anos sessenta do século 20, o peruano Carlos Neuenshwander Landa realizou vinte e sete expedições em busca de Paititi, sobretudo na área do Parque Nacional do Manu. Em 1970 três aventureiros, o americano Nichols e os franceses Debrù e Puel desapareceram na zona do Parque Nacional do Manu procurando por Paititi. Em 1979, o casal franco-peruano Herbert e Nicole Cartagena, guiados pelo peruano Goyo Toledo, descobriram uma localização incaica, situada junto ao Rio Mameria, afluente do Nistron, por sua vez, afluente do Alto Madre de Dios, o que foi relatado em um livro, "Paititi, dernier refuge des Incas" (1981). Em 1980, Goyo Toledo retornou, a pé, até Mameria, a primeira pessoa a fazê-lo desde a época dos Incas. Sucessivos estudos conduzidos pelo explorador americano Gregory Deyermenjian tem comprovado que Mameria, mesmo não sendo Paititi, era um importante posto avançado incaico no vale do Rio Nistron para abastecer de coca o Império. Gregory Deyermenjian realizou numerosas expedições na região de Pantiacolla, remoto território entre Cusco e Madre de Dios. Descobriu, estudou e percorreu um antigo caminho inca pavimentado em pedra que, desde a Meseta de Pantiacolla conduz até a selva mas que, ainda não foi explorado completamente. Talvez lá encontremos indícios mais conclusivos sobre as relações estabelecidas em tempo do Império dos Inkas com as nações da selva amazônica.
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Neste ano do Centenário da Descoberta das Ruínas de Machu Picchu no Peru, e baseando-me no fato histórico de que  foi no século 14 que o quinto Inka, Cápaq Yupanki (o mesmo que deu início a uma linhagem usurpadora, havendo conspirado contra seu irmão Tarko Wamán, herdeiro do Império), ordenou as primeiras entradas na região de selva para plantio de coca na área de Madre de Dios, quero propor a tese de que o nome de Paititi representa não uma cidade, mas todo o complexo civilizatório do qual hoje seus restos mais visíveis são os geoglifos encontrados no Brasil e Bolívia. Este complexo civilizatório seria composto por clãs tribais, uma confederação desses clãs. Ora, um clã constitui-se num grupo de pessoas unidas por parentesco e linhagem e que é definido pela descendência de um ancestral comum. Mesmo se os reais padrões de consangüinidade forem desconhecidos, não obstante os membros do clã reconhecem um membro fundador ou ancestral maior. Como o parentesco baseado em laços pode ser de natureza meramente simbólica, alguns clãs compartilham um ancestral comum "estipulado", o qual é um símbolo da unidade do clã. Quando este ancestral não é humano, é referenciado como um totem animal. No caso, esta confederação de clãs que existia até o século 14, teria sofrido desde então uma grande diáspora e consiste no que hoje conhecemos como Povos Pano. Muitos buscaram novas formas de unificação, em especial os Shipibo e Hunikuin, que hoje vem a ser os grupos mais numerosos no Peru e Brasil, respectivamente.
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A propósito, um relato do peruano Garcilaso de la Vega no século 16 nos é muito interessante por explicar como a forma com que os espanhóis passaram a celebrar a festa do Corpus Christi em Cusco desde 1571 esteve relacionada com um ancestral cortejo de clãs tribais que se realizava na capital do Império dos Inkas:
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" Os caciques de todo o distrito daquela grande cidade vinham até ela a solenizar a festa, acompanhados de seus parentes e de toda a gente nobre de suas províncias. Traziam todas as galas, ornamentos e invenções que no tempo de seus reis Inkas usavam na celebração de suas maiores festas. (...) ; cada nação trazia o brasão (desenho) de sua linhagem, de onde se prezava descender.
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Uns vinham (...) vestidos com pele de puma, e suas cabeças encaixadas nas do animal, porque se prezavam descender de um puma. Outros traziam as asas de uma ave muito grande a que chamam condor colocadas nas costas, como as que usam os anjos, porque se prezam descender daquela ave. E assim vinham outros com outras divisas pintadas, como pontes, rios, lagos, serras, montes, cavernas, porque diziam que seus primeiros antepassados saíram daquelas coisas. Traziam outras divisas estranhas, como as roupas chapeadas de ouro e prata. Outros com guirlandas de ouro e prata; outros vinham como monstros, com máscaras feíssimas, e nas mãos peles de diversos animais, como que os houvessem caçado, fazendo grandes gestos, fingindo-se loucos e tontos, para agradar a seus reis de todas as maneiras, uns com grandezas e riquezas e outros com loucuras e misérias, e cada província com o que lhe parecia que era melhor invenção, de maior solenidade, de maior fausto, de maior disparate e loucura, que compreendiam bem que a variedade das coisas deleitava a vista e acrescentava gosto e prazer aos ânimos. Com estas coisas, e outras muitas que se podem imaginar, que já não acerto a descreve-las, solenizavam aqueles índios as festas de seus reis. Com as mesmas (aumentando-as em tudo o mais que podiam) celebravam em meus tempos a festa do Santíssimo Sacramento.
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O cabildo da igreja e o da cidade faziam por sua parte o que convinha à solenidade da festa. Faziam um tablado no átrio da igreja, na parte de fora que sai à praça, onde punham o Santíssimo Sacramento em uma formosa custódia de ouro e prata. O cabildo da igreja se colocava do lado direito, e o da cidade do lado esquerdo. Junto a eles ficavam os incas que haviam sobrado do sangue real, para honrar-lhes e fazer alguma demonstração de que aquele Império era deles.
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Os índios de cada localidade passavam com suas andas, com toda sua parentela e acompanhamento, cantando cada província em sua própria língua materna, e não na língua geral da corte (quíchua), para diferenciarem-se umas nações das outras. Levavam seus tambores, flautas, buzinas e outros instrumentos rústicos musicais. Muitas províncias levavam suas mulheres depois dos varões, que lhes ajudavam a tocar e cantar. Os cantares que iam dizendo eram em louvor de Deus Nosso Senhor, dando-lhe graças pela mercê que lhes havia feito em traze-los a seu verdadeiro conhecimento. Também rendiam graças aos espanhóis, sacerdotes e seculares, por haverem lhes ensinado a doutrina cristã (sic). Outras províncias iam sem mulheres, apenas os varões; enfim, era tudo semelhante ao uso no tempo de seus reis.
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(...) Entrava cada nação por sua antiguidade (de acordo como foram conquistados pelos Inkas), que os mais modernos eram os primeiros, e assim os segundos e terceiros, até os últimos, que eram os incas. Estes iam adiante dos sacerdotes, em pelotão de menos gente e maior pobreza, porque haviam perdido todo seu Império, e suas casas e herdades, e suas propriedades particulares".
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Não deixem de ler "O inca pano: mito, história e modelos etnológicos", de Óscar Calavia Sáez. Visitem o site Geoglifos, e leiam também "Geoglifos do Acre - Novos Desafios para a Arqueologia Amazônica", de Denise Schaan, Miriam Bueno e Alceu Ranzi. No blog Mensageiros do Amanhecer, conheçam mais sobre os Geoglifos de Rondônia.
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Joaquim Cunha da Silva apresenta em seu blog Eldorado-Paititi a tese da correlação entre os achados dos geoglifos e o Paititi. Leiam mais sobre o Paititi em FANTASTIPEDIA. Os artigos "L'interminabile ricerca del Paititi e l'analisi del manoscritto di Andrea Lopez", e "Il Regno Amazzonico del Paititi" podem ser conhecidos no site de Yuri Leveratto.