sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Santo Daime, uma Religião Transfigurada

Padrinho Wilson Carneiro de Souza, um dos fundadores do CEFLURIS em 1974, era o responsável pelo envio de Daime do Mestre Irineu para Porto Velho nos anos 60 e apesar da divisão entre grupos e a grande oposição ao grupo da Colônia Cinco Mil, em Rio Branco, continuou visitando festejos no CECLU até 1989.

 

As seitas surgem da realização de ofícios sacratícios (instauradores do campo “espaço-tempo” sagrado) por parte de um grupo de pessoas que compartilham uma mesma visão de mundo. Em certo sentido, uma etnia indígena pode ser considerada uma seita, uma facção da cultura de um grupo maior que se assume como tal e acentua um afastamento, ou por motivo da distância em si para o convívio e comunicação, ou por algum particularismo próprio de um pajé ou xamã o qual elabore sua filosofia de modo próprio e assim venha a desenvolver toda uma série de rituais com a função de dar estrutura às práticas religiosas do grupo. Quem amarra a base de uma cultura são os pajés, artistas por excelência, que constroem as raízes de uma etnia e assim conduzem o seu horizonte cultural. Entretanto, seitas são visões estreitas, enquanto estruturas fechadas de pensamento, conformadas em si mesmas, e esta não é a vocação, por exemplo, das culturas amazônicas ancestrais, sempre tendentes à multiplicação e à multiplicidade dadas as próprias características do ambiente da floresta, onde tudo está em permanente reciclagem, inclusive a cultura.

Tal permeabilidade das culturas amazônicas diverge das culturas andinas ancestrais, mais concentradas em sua conservação, e talvez por isso a exposição à civilização seja mais aculturante na Amazônia do que nos Andes, mas hoje em dia talvez já se encontrem no mesmo nível de degradação em relação aos ambientes urbanos. Nas aldeias da Amazônia, entretanto, o ambiente também protege o habitante tradicional, que possui bagagem de sobrevivência na floresta há milhares de anos, e na riqueza dessa etnobotânica os modernos pajés possuem meios de alcançar um dia uma autonomia digna já que consiste em direitos coletivos inalienáveis a posse desse conhecimento científico.

A Ayahuasca e o Iagé sempre foram construtores de identidades étnicas na Amazônia. É assim que o Natem é relembrado no Alto Rio Negro, como instrutor dos papéis sociais no grupo comunal. Os Shuar o tiveram como instrutor de estratégias de grupo (caça, pesca, e guerra), e os Arawak e Pano como instrutor dos processos terapêuticos. Purgativo e rigoroso, o remédio da Ayahuasca se tornou comunhão no Acre brasileiro, na comunidade religiosa liderada por Raimundo Irineu Serra, a partir de 1935, e esta foi a primeira formação de uma “seita” cristã a partir da bebida ancestral. Quando esse mesmo mestre destaca Daniel Pereira de Mattos para formar seu próprio ritual na localidade da Vila Ivonete no final dos anos 40, estabelece um “corpus” cultural particular para seu grupo e reconhece a liberdade de estabelecimento de outro “corpus” cultural para o grupo liderado por seu amigo. Nas exéquias do Frei Daniel em 1958, Mestre Irineu compareceu com seus fardados, comungaram da Santa Luz daquele centro, e ao chegar de volta ao Alto Santo decidiu o Mestre determinar que a partir daquela data os seus seguidores não deveriam mais tomar Daime de outra administração. Compreender este dado, informado por Daniel Serra, sobrinho do Mestre, nos permite entender o motivo dos fardados do CICLU - Alto Santo até a presente data não comungarem Daime em outras igrejas, mas também que cada grupo segue uma precepção e uma orientação e cada pastor deve ser responsável por suas ovelhas, assim como cada paciente deve seguir as prescrições e acompanhamento de seu terapeuta. Porque a Ayahuasca da comunhão do Santo Daime é em essência um medicamento para as almas.

Assim como Mestre Gabriel veio a fundar a União do Vegetal em Rondônia de modo absolutamente particular, de acordo com o seu processo de assimilação da cultura amazônica após longa iniciação com o espiritismo caboclo do Nordeste, e disso adviram características próprias para a U.D.V., outros mestres desenvolveram suas escolas e seus rituais etnoterapêuticos, como o Mestre Inácio em Feijó, no Rio Envira, desde os anos 40, dentre outras casas de benzedores conhecedores dessa medicina indígena. O grupo do Senhor Regino, em Porto Velho, que deu origem ao CECLU – Centro Eclético de Correntes da Luz Universal fundado sob autorização do Mestre Irineu em 1970, teve uma trajetória própria porque eram originariamente um grupo kardecista que passou a receber Daime do Acre enviado pelo Mestre Irineu, passaram a estudar a cartilha da Doutrina do Santo Daime para então receberem o fardamento e serem instruídos para a produção própria do sacramento. Segundo Virgílio Nogueira do Amaral, padrinho do CECLU, haviam algumas pessoas no grupo orginal que conheciam os salmos do Frei Daniel e quiseram instrui-los localmente, mas Mestre Irineu disse que cada casa tinha seus próprios adornos e os enfeites de sua casa já existiam e eram as flores dos hinários que deviam ser aprendidos e aqueles que os seguidores viessem a receber para instrução da comunidade.

Importante ressaltar que CICLU e CECLU foram fundados de modo concomitante em estatutos paralelos onde o conceito de “Ecletismo Evolutivo” foi inserido para definir uma visão, na verdade política, do Mestre Raimundo Irineu Serra, de que sua Doutrina poderia sim se expandir em outros lugares e regiões, mesmo que a partir de grupos já oriundos de outra formação religiosa, desde que se preservassem e mantivessem os rituais próprios da sua cartilha, sendo os desdobramentos resultantes das instruções que estariam sendo recebidas por aquele grupo através destes trabalhos e dos hinos dos membros da casa a serem praticados. As características da “seita” permaneciam, deste modo, inalteradas, mas outras linhas de trabalho podiam ser desenvolvidas localmente de acordo com a instrução da liderança espiritual (desde que em outro momento que não o dos rituais do calendário da casa), bem como outras orações podiam ser utilizadas durante as sessões de concentração ou trabalhos de cura domiciliares. Esse modelo do Ecletismo Evolutivo é que deu voz ao Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra, o CEFLURIS, e quando de seu surgimento em 1974, o primeiro estatuto era uma cópia do estatuto do CECLU, pois se guardou o mesmo parâmetro. O CEFLURIS deteve, então, o modelo de expansão da Doutrina, já que outras divisões do Alto Santo se mantiveram no mesmo lugar e apenas o CEFLURIS renovou grandemente seu quadro de membros e se moveu do Acre para o Amazonas, ao mesmo tempo em que autorizava o estabelecimento de subsidiárias em outras capitais.

Quarenta anos após o falecimento do Mestre Irineu, temos o Santo Daime como religião popular da Amazônia transfigurada em diferentes prismas em muitas comunidades espalhadas Brasil afora bem como no estrangeiro. Isto se deve à sua feição amazônica, mestiça, multidiversa como a floresta que lhe dá substância. Os pajés de hoje se admiram de observar essa conquista, e como herdeiros dessa tradição se mobilizam para explicar ao mundo o valor de sua ciência etnobotânica, produzindo muita cultura musical, muita energia terapêutica, numa mensagem de transfiguração que implica em uma releitura dos haveres e deveres dos horizontes culturais de cada um, e num balizamento de um ecumenismo caboclo que lê através dos símbolos e não apenas na sua superfície dogmática alimentada por atavismos e não por metamorfoses evolutivas. Os dois setores, o da preservação das tradições e o da produção da criação dos mitologemas, tem de estar ativos, pois são os polos positivo e negativo para a condução da energia. Tudo está em circuito, um ciclo conduz a outro nessa espiral do tempo, e as Santas Medicinas estão aí para curar a humanidade. Curando o sentido da vida humana, produzimos milagres. Cada um que se encontre com a verdade que existe além das palavras encontrará também o seu lugar no jogo cósmico do planeta, e nisto consiste uma Cultura Viva: é ter na mente o Eterno!  

* conheçam também o blog Cadernos de Hinário

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A lenda viva em Popé

Popé, o grande líder hopi, em arte digital de J. Walker

A aparição do cometa ISON na região da constelação de Câncer, trafegando nas proximidades da órbita de Júpiter em rumo ao Sol, reacendeu especulações junto aos místicos e aos aficcionados pelos eventos astronômicos, sobre se esta seria afinal a Estrela Azul das lendas da Nação Hopi, ou se este seria o Cometa de Kirch que em 1680 riscou os céus do hemisfério norte com grande destaque por seu brilho intenso e sua enorme cauda. Não tenho acesso aos milenares registros astronômicos chineses, que poderiam esclarecer se 333 anos antes de 1680, ou seja, em 1347, um grande cometa foi observado, o que evidenciaria uma mesma periodicidade em relação a 2013, quando o cometa começará a se fazer visível em nosso planeta (nos Estados Unidos da América será justamente no tradicional feriado familiar de Ação de Graças). Mas me interessou investigar como os índios norte-americanos experienciaram a aparição do Grande Cometa de 1680. E os livros de história me levaram novamente aos Hopi e aos céus do atual Arizona...

A Nação Hopi é formada por trinta e uma vilas (pueblos) habitadas por índios, pertencendo a seis grupos linguísticos distintos nos Estados Unidos - partilham uma economia agrícola sedentária e numerosas crenças. Eles têm em comum com as antigas religiões da América Central o mito de várias criações e destruições do mundo. Todos reconhecem seres sobrenaturais, os kachinas, palavra que designa igualmente as máscaras cerimoniais pelas quais as presenças sobrenaturais acontecem na vida ritual dos "Pueblos". Os índios hopi têm um sistema complexo de confrarias religiosas, cada uma presidindo a uma das cerimônias periódicas. Os kachinas (que é também o nome de uma das sociedades religiosas) aparecem em público entre março e julho, enquanto de janeiro a março se exibem nos kivas ou câmaras cerimoniais. Em fevereiro, quando da cerimônia Powamuy, as crianças são iniciadas no culto dos kachinas. Em julho, a cerimônia Niman («reentrada») fecha o ciclo dos kachinas, após o que se inicia o ciclo sem máscaras. Os símbolos mais importantes na vida ritual dos hopis são o milho, simbolizando a vida para este povo de agricultores, e as plumas de pássaro, supostamente transportando as orações dos humanos até aos espíritos.  O pueblo dos Sunhi conhece outras confrarias religiosas, incluindo a dos kachinas e a dos sacerdotes kachinas. Os guerreiros kachinas em 1680  lutaram contra os colonizadores espanhóis, matando os seus sacerdotes católicos e forçando-os a retirar-se para sul. A Revolta Pueblo é conhecida até hoje como a única vitória de uma nação ameríndia contra a invasão européia, e seu líder Popé hoje ressignificado se faz celebrado como herói do Arizona e da nação norte-americana.

A aldeia Oraibi , também referida como Old Oraibi, é  hoje uma aldeia indígena hopi na área do município de Navajo County, no estado do Arizona, nos Estados Unidos, na parte nordeste do Estado. Conhecido também como Orayvi pelos seus habitantes nativos, está localizada na reserva indígena hopi perto de Kykotsmovi Village. Oraibi foi fundada pouco antes do ano 1100, se tornando uma das mais antigas povoações habitadas continuamente dentro dos Estados Unidos. Os arqueólogos especulam que uma série de secas severas no final do século 13 forçou os hopi a abandonarem várias aldeias menores na região e se consolidarem dentro de alguns centros populacionais maiores. Como Oraibi foi um desses assentamentos sobreviventes, a sua população cresceu consideravelmente, e se tornou populoso e o mais influente dos assentamentos hopi. Oraibi permaneceu desconhecido para exploradores europeus até cerca de 1.540, quando o explorador espanhol Don Pedro de Tovar (que fazia parte da expedição de Coronado) encontrou a civilização dos hopi enquanto procurava as lendárias Sete Cidades de Ouro. O contato com os europeus permaneceram (e foram evitados enquanto possível) escassos até 1629 quando uma missão franciscana foi estabelecida na aldeia. Em 1680, a Revolta Pueblo resultou em diminuição da influência espanhola na área e a extinção da missão dos jesuítas. As tentativas posteriores para restabelecer essas missões foram recebidas com repetidas falhas. A primeira (Old Oraibi) missão criada pelos franciscanos ainda hoje é visível como uma ruína. Este antigo povo da raça vermelha continua em pleno século 21 a praticar a sua cultura tradicional, num grau mais elevado que a maioria dos outros nativos americanos. 

Foi devido às humilhações e proibição de sua religião tradicional que os povos Pueblo se mobilizaram contra os espanhóis. Os espanhóis também interromperam a economia tradicional desses povos ao forçá-los a trabalhar nas "encomiendas" coloniais ou nas minas de Chihuahua. Entretanto, os espanhóis também introduziram novas ferramentas agrícolas e proveram medidas de segurança contra os ataques dos Navajo e Apache. Pode-se dizer que os Pueblo viveram em relativa paz com os espanhóis até 1598 quando foi criada a colônia do Novo México. Na década de 1670, duma prolongada estiagem causou fome entre os Pueblo e ocasionou crescentes ataques de tribos nômades vizinhasf, que os espanhóis não estiveram aptos a defender. Ao mesmo tempo, os espanhóis trouxeram a catapora e outras doenças que dizimaram grande parte dos nativos. Insatisfeitos com os poderes protetores da coroa espanhola e desencantados com a religião católica, as pessoas retornaram às suas tradicionais práticas religiosas. Isso provocou uma onda de repressão por parte dos missionários franciscanos. Eles proibiram as danças Kachina e ordenaram a destruição de toda máscara ritual, bastão de reza e imagens dos cultos hopi.  

Em 1675, o Governador Juan Francisco Treviño ordenou a prisão de quarenta e sete pajés Pueblo e os acusaram de praticar bruxaria. Quatro pajés foram condenados à forca, e três dessas sentenças foram executados pois o quarto prisioneiro cometeu suicídio. Os homens restantes foram publicamente chicoteados e sentenciados à prisão. Quando essas notícias chegaram aos líderes Pueblo, eles marcharam em peso até Santa Fe, onde os pajés prisioneiros estavam, e como a maioria dos soldados espanhóis se encontravam fora lutando contra os Apache, o Governador Treviño libertou os prisioneiros. Entre estes estava o chefe Tewa chamado "Popé" (Po'Pay). Popé instigaria a bem sucedida rebelião contra os espanhóis em 1680. Pregando a resistência contra os europeus e a restauração da cultura e da religião tradicional, Popé conduziu seu povo ao objetivo de obstruir toda influência espanhola no território dos Pueblo. Em 10 de Agosto de 1680, sob sua liderança foram mortos cerca de 400 missionários e colonizadores e expulsou os outros espanhóis no rumo de El Paso, Texas. Popé e seus seguidores então procederam a destruir as igrejas cristãs e outras evidências da presença espanhola  no território. Os índios então construíram uma câmara religiosa cerimonial, uma "kiva", nas ruínas da praça espanhola de Santa Fe. Este ficou sendo o único exemplo na História Ameríndia onde um poder colonial foi completamente expulso das terras nativas. 

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Ao observarmos o horizonte celeste do Arizona no solstício de junho de 1680, temos que, antes do raiar do sol, na madrugada. havia um agrupamento raro de planetas junto às Plêiades (Júpiter, Marte e Vênus). Certamente que Popé e os demais pajés tiveram isso como um sinal de sorte, os planos para a revolta foram executados e em Agosto desse ano os espanhóis foram expulsos de volta para o México.  Na cultura Pueblo as Plêiades também são conhecidas como O Veado, e neste 2013 os mesmos guerreiros (Júpiter, Marte e Vênus) estão de volta junto a elas... 

A religião dos HOPI é essencialmente pacífica e envolve o respeito por todas as coisas e seres da Natureza, de acordo com os mandamentos de Maasaw, Criador e Protetor do Mundo. Nos seus ritos religiosos, os hopi pedem benefícios para todos os povos da Terra. Possuem uma cosmogonia que em tudo se assemelha a concepções que parecem repetir-se por todo o planeta, fato indicativo de que, de algum modo, toda a Humanidade recebeu as suas tradições de uma mesma fonte, embora as lendas e profecias tenham adquirido ao longo do tempo pequenas diferenças, insignificantes em relação ao todo e que são resultado de peculiaridades locais. Os hopi também acreditam na emergência e extinção cíclica dos Homens, que se renovam em raças cada vez mais evoluídas rumo a uma purificação espiritual que chegará ao termo ideal na Sétima Raça ou Sétimo Mundo (Em tudo semelhante à cultura hindu dos Vedas) . O fim do mundo segundo a tradição Hopi inclui todo aquele elenco de catástrofes descritas em outras profecias, desastres naturais inevitáveis, considerando esta tradição que o cruzamento entre as órbitas da Terra e de um astro de grandes proporções - seja planeta, asteroide ou cometa (ou uma estrela Anã Marrom, companheira de nosso Sol) - produzirá evidentemente, grandes alterações no ecossistema terrestre. Este fim do mundo segundo os Hopi também inclui a ideia de uma punição, de um karma negativo a ser resgatado, prevendo que a chegada de uma estrela azul em nosso sistema solar virá coroar uma seqüência de nefastas ações perpetradas pelos homens: irá acontecer uma guerra e esta será também um confronto entre valores materiais e valores espirituais. Somente os HOPI, ou os Pacíficos (de todos os povos), serão poupados, restarão uns poucos sobreviventes, sementes do Quinto Mundo, o próximo. 

Existe uma rocha de arenito num penhasco perto de Second Mesa, que pertence à reserva Hopi no Arizona. Neste penhasco está gravada uma imagem do nosso passado, presente e futuro. Este local é mais comumente conhecido como a rocha da profecia hopi. Os sinais que anunciam o grande final já estão a acontecer há algum tempo e são igualmente parecidos com todos aqueles citados em outras profecias, das mais variadas culturas pelo mundo, a grande maioria decorrentes dos aspectos negativos do notável avanço tecnológico alcançado pela Humanidade e conseqüente falta de espiritualidade. Os hopi, assim como outros povos, foram “salvos de uma grande dilúvio” no passado e estabeleceram um acordo com o Grande Espírito (O Criador) em que nunca mais se separariam dele. Então ele fez um conjunto de sinais deixados em tábuas de pedra sagradas chamadas Tiponi, gravadas na rocha na velha aldeia em Oraibi nas quais inseriu os seus ensinamentos, profecias e avisos. A profecia desta rocha descreve dois tipos de caminhos: o caminho daqueles que pensam preferencialmente com a cabeça (intelecto) e o daqueles que pensam mais com o coração (que compreendem a beleza e a sacralidade de toda a vida universal).


A profecia mais persistente e confirmável é uma que foi dada nos tempos antigos pelos Anciões Hopi. Esta profecia foi passada através da tradição oral e pela referência às tábuas antigas, escritas na rocha. Os anciões revelaram que haveria nove Sinais antes que surgisse o 5º Mundo. Este quinto novo (também coincide com a idéia hindu encontrada nos Vedas) mundo seria um mundo de paz e de abundância – uma Nova Terra. Podemos dizer que o primeiro caminho é o daqueles que usam mais o hemisfério esquerdo do cérebro, privilegiando o pensamento analítico, enquanto que o segundo caminho é o daqueles que usam mais o hemisfério direito, servindo-se mais do pensamento intuitivo. O homem moderno tem pouco equilíbrio porque vive numa sociedade em que o hemisfério esquerdo é o dominante. Atualmente damos mais ênfase ao raciocínio analítico e menos importância à intuição e aos sentimentos. A profecia da rocha mostra um entroncamento no qual todas as pessoas vão ter de fazer uma escolha, ou continuam a pensar apenas com a cabeça ou decidem começar a pensar mais com o coração (o quarto Chakra, o Anahata, um centro sentiMENTAL, do amor incondicional pela vida). Se escolherem o primeiro caminho, isso irá guiá-las à autodestruição, mas se escolherem pensar com o coração, então gradualmente regressarão ao estilo de vida natural (e pelo respeito à Mãe Terra e a sua natureza) e sobreviverão. 

Uma das profecias hopi parece estar relacionada as estrelas da Constelação das Plêiades e profetisa: “Quando a Estrela Azul Kachina fizer sua aparição nos céus, o Quinto Mundo começará. Este será um dia de purificação. Então haverá muito para reconstruir. E logo após Pahana (significa irmão branco dos céus) desaparecido, retornará e trará com ele o amanhecer do Quinto Mundo. Esta lenda da volta do Pahana parece estar intimamente relacionada com os Aztecas e a história de Quetzalcoatl, (assim como outras lendas da América Central). "Ele plantará as sementes da sabedoria nos corações das pessoas. Até mesmo agora as sementes estão a ser plantadas. Isto abrirá o caminho para o aparecimento do Quinto Mundo”. A profecia hopi refere que o aparecimento da Estrela Azul Kachina nos céus iniciará um período de grande purificação, um período em que a Terra será purificada e limpa da negatividade, em preparação para o surgimento do 5º Mundo (“virá quando Saquasohuh – a estrela azul – Kachina dançar na praça e remover a sua máscara”). 


O Grande Cometa de 1680 em Rotterdam, pintura de Atlas van Stolk

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O tempo espiral

Árvore da Criação - Arte Maya (Izapa) 

Cada ano das datas, a quais os mayas chamavam tun, tem 360 dias. Se retornarmos a data de criação, com seus ciclos fixados em 13, vemos que o ciclo maior necessitaria 41.943.040.000.000.000.000.000.000.000 tunes para mudar de 13 a 16.  Este número enorme funciona em vários níveis. Como vimos, permite que o tempo linear se desloque dentro de uma estrutura cíclica. À medida em que os ciclos do número da Criação vão sendo maiores, os seres humanos só podemos percebe-los como uma tangente em um ciclo inimaginavelmente enorme. Tomando uma analogia de nossa própria cultura, a terra se experimenta como plana, apesar de que sabemos que é redonda. Nossa própria teoria do Big Bang da Criação segue o mesmo modelo. Nossos cosmólogos consideram que este universo é apenas um a mais entre uma série de muitos e que, andando o tempo, sua matéria vlrá a colapsar-se em um bloco e de novo fará explosão. Entretanto, o assunto aqui não é realmente a comparação entre cosmologias. O importante é que os mayas do Período Clássico conceberam o tempo em uma escala cíclica tão grande. Para eles o tempo só aparenta deslocar-se em linha reta. A data da Criação é um ponto marcado em círculos cada vez maiores dentro de círculos incluídos em outros círculos de tempo.
Para entendê-lo necessitamos uma pequena escala. Os 13 deste enorme número atuam como o 12 de nossos relógios: a hora que se segue às 12 é a 1. O 13 mudava para 1 cada vez que se completava um daqueles ciclos do calendário maya; portanto, temos a seguinte sequência:


13.13.13.0.0.0.1               5 imix            9 kunik´ú                 14-08-3114 a.C.

13.13.13.0.0.1.0               11 ahaw       3 pop                        02-09-3114 a.C.

13.13.13.0.1.0.0               13 ahaw       3 kumk´ú                 07-08-3113 a.C.

13.13.13.1.0.0.0               2 ahaw         8 mak                       01-05-3094 a.C.

13.13.1.0.0.0.0                 3 ahaw         13 ch´en                   15-11-2720 a.C.

13.13.13.0.0.0.0               4 ahaw         3 k´ank´ín                23-12-2012 d.C.

13.1.0.0.0.0.0                    10 ahaw       13 yaxk´ín               15-10-4772 d.C.

1.0.0.0.0.0.0                      7 ahaw         3 zotz´                      22-11-154587 d.C.
 

Fonte: “EL COSMOS MAYA – Tres mil años por la senda de los chamanes”, de David Freidel, Linda Schele e Joy Parker – Fondo de Cultura Económica, México, 1999) . Leiam também: "A frequência do Sol é uma oitava", no blog O Sol Interno. Imagem: Star Nation