terça-feira, 23 de julho de 2013

domingo, 14 de julho de 2013

A Origem Védica da Matrix


O deus Brahma

Encontramos na literatura vedântica a chave que revela a origem da natureza ilusória ou representativa do mundo: a cópia do soma, a usurpação da divindade, que descobre, por sua vez, aos deuses como simuladores.

Um desejo permeia o misticismo de todas as eras: arrancar o véu da ilusão. Mas para poder penetrar esse tecido, que algumas vezes é descrito como a vestimenta de uma deusa ou um hermético castelo, que se confunde com a natureza e o mundo fenomenológico, primeiro se deve detectar sua existência: o ato fundamental também descrito como ver o invisível, despertar em um sonho ou tomar consciência de que a realidade é falsa. A filosofia gnóstica ideou o conceito de stereoma para significar uma criação sobre a criação, uma espécie de realidade virtual ou simulação desenhada pelos Arcontes, senhores planetários que aplicam um encantamento sobre a realidade verdadeira. A evolução desta ideia, como mostramos em várias ocasiões em Pijama Surf, se converte na simulação informática conhecida como A Matrix.  A mais penetrante narrativa de ficção científica de nossos dias que é uma soma das ideias de autores como Phillip K. Dick, Jean Baudrillard, William Gibson e animações ciberpunk japonesas como Ghost in the Shell. Um remix da sofisticação da narrativa do “sonho dentro de um sonho” – a mente já extravasada como um software.

Existe, entretanto, uma origem mais remota para esta ideia que atinadamente a modernidad chamou Matrix (palavra que compartilha raiz com “matéria”, “medida” e “maya”).  Se trata da literatura védica, a história dos Rbhus “os forjadores”, “filhos dos homens que eram reconhecidos por seus olhos de sol”, os primeiros mortais que alcançaram a divindade, ascendendo ao céu convidados por Indra e os Asvin. Alguns mitos se destacam e conduzem até significarem a matéria mesmo do inexplicável, o coração do mistério, mas segundo alguns relatos fragmentados, os Rhbus, não conformados com haverem alcançado as esferas superiores, in coelestibus, quiseram provar do soma, a bebida dos deuses que outorga a imortalidade. Recebidos em seu lar por Savitir “aquele a quem nada se pode ocultar”, depois de uma letargia de 12 dias, algo assim como o rito de passagem ou a ressaca de sua divinização, foram despertados pelo Cão Celeste e conheceram a Tvastr, “o artífice divino, zeloso guardião do soma”. Em um trecho memorável que és uma cifra holográfica de "a literatura e os deuses", Robero Calasso nos conta:

Isto foi o que aconteceu: a taça na qual os deuses e Tvastr bebiam o soma era única. Era o único. Os Rbhu a olharam, a estudaram. Depois “reproduziram quatro vezes aquela taça do Asura (Tvastr), que era única”. Como o conseguiram? Medindo-a com precisião: usando sua arte, que era maya, a “magia medidora”, segundo a luminosa tradução de Lilian Silburn. Tvastr abriu enormemente os olhos quando viu aquelas quatro taças, que resplandeciam como novos dias. Disse: “Queremos matar aos que contaminaram a taça divina do soma”. Não está claro o que aconteceu a seguir. Se perceben também sombras femininas. 

Este ato de magia artesanal, que se lê como uma história detetivesca de bruxaria, que usurpa a mesma qualidade divina, a luz prístina do mundo, é definitivo e se derrama (continua se derramando como de uma taça infinita) sobre a realidade. Aquele que cai é o mundo inteiro, exatamente tomando o lugar do mesmo mundo. O fantasma mais perfeito é aquele que é um corpo idêntico. Mas é um fantasma e essa é toda a diferença. Esse ato arruinou para sempre a relação entre os homens e os deuses, sob o conjuro do artifício.

Os Rbhu haviam chegado demasiado longe, ao lugar onde crescem juntos e logo se separam o fetiche e o reflexo. Enquanto o único persiste, o simulacro permanece prisioneiro em seu seio. Mas quando as taças se multiplicaram, se derramou desde o céu a incessante catarata de simulacros, na qual o mundo vive desde então[...] Se a cópia significa a extinção do único, na esteira da cópia aparece a morte. Os primeiros simulacros, são as imagens e as aparições dos mortos.

Se sugere que o estigma da cópia provém de recordar “um tempo remoto no qual também os deuses haviam pisado a terra como simples mortais”.  O poder dos deuses se estriba no segredo de que os mortais podem fazer cópias e ser como os deuses (revelando que a matéria é programável).



Platão fala que os demiurgos (o nome utilizado para a divindade que simulou o mundo) eram artesãos que copiavam vasilhas na periferia das ágoras.

Borges descreve em Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, a que poderia ser uma civilização em um universo paralelo: ”Os espelhos e a cópula são abomináveis porque multiplicam o número dos homens”. Este é o pavor metafísico da cópia, que o poder legisla proibindo (como  ocorreu na Idade Média, a bruxaria e a sexualidade orgiástica, eram vistas como a mesma profanação).

A ressonância moderna da cópia tem a ver com a inteligência artificial e a realidade virtual: uma copia a mente, que talvez em sua origem gerou a própria realidade (o segredo dos deuses é que o mundo é um artifício), a outra copia a natureza – o vazio dançante – e a substitui com a hiperrealidade (a matéria, o maya, é a primeira simulação). Detrás do ar e da parede, se podem vislumbrar alfanuméricos brilhando suavemente? Existem cabos detrás das estrelas?  Também nos Vedas, via Calasso, vislumbramos na Criação de Prajapati, o código que dá suporte à representação, o grande teatro, que é o mundo:

Em seu entorno tudo era novo e, ao mover o olhar,  podia ver ainda detrás das manchas da vegetação, detrás das silhuetas das rochas, um número, uma palavra, uma equivalência: um estado da mente que se aderia.

Twitter do autor: @alepholo
Ensaio de Alejandro de Pourtales, publicado originalmente em Pijama Surf : let´s #freetheweb !

sábado, 13 de julho de 2013

Exu é assim



"Exu é assim, assim ele é
Ele pode não ser anjo
Mas diabo ele não é (x2)
Eu sei que você sabe
Mas eu falo pra você
Dendezeiro não dá mel
Abelha não faz dendê
Aquele que hoje fere
Ferido amanhã vai ser
Tudo que vai tem volta
Se subir, pode descer

Exu é assim, assim ele é
Ele pode não ser anjo
Mas diabo ele não é (x2)
Na escolha dessa vida
Pense bem, preste atenção
Quem prefere a claridade
Não busca escuridão
A semente que plantar
É a colheita que vai ter
Exu atende um pedido
Mas quem pede é você

Exu é assim, assim ele é
Ele pode não ser anjo
Mas diabo ele não é (x2)"


(Tião Casemiro)

Fonte: Vagalume

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Imperador Ras Tafari



HAILÉ SELASSIÉ ("O Poder da Trindade") nasceu sob o signo de Leão, em 23 de julho de 1892, com o nome de Tafari Makonnen e posteriormente foi conhecido como Ras Tafari. Regente da Etiópia de 1916 a 1930 e imperador daquele país africano de 1930 a 1974, era herdeiro de uma dinastia cujas origens remontam historicamente ao século XIII e, tradicionalmente, até o Rei Salomão e a Rainha de Sabá.

É uma figura crucial na história da Etiópia e da África. Considerado o símbolo religioso do Deus encarnado, entre os adeptos do movimento rastafári, que conta com aproximadamente 800 mil seguidores atualmente, os rastafáris também o chamam de H.I.M., sigla em inglês para "Sua Majestade Imperial" (His Imperial Majesty), Jah, Ras Tafari e Jah Rastafari.

Durante o seu governo, a repressão a diversas rebeliões entre as raças que compõem a Etiópia, além daquele que é considerado como o fracasso do país em se modernizar adequadamente, rendeu-lhe críticas de muitos contemporâneos e historiadores. Seu protesto na Liga de Nações, em 1936, contra o uso de armas químicas contra o seu povo por parte da Itália, foi não só um prenúncio do conflito mundial que se seguiria, mas também representou o advento do que se chamou de "refinamento tecnológico da barbárie", característica que veio a marcar as guerras do período. 


Selassié era um orador talentoso, e alguns de seus discursos foram considerados entre os mais memoráveis do século XX. Suas visões internacionalistas levaram a Etiópia a se tornar membro oficial das Nações Unidas, e sua experiência e pensamento político ao promover o multilateralismo e a segurança coletiva provaram-se relevantes até os dias de hoje. 


Este seu modo simbólico de juntar as mãos é um direito soberano do regente da linhagem do próprio rei e profeta Davi. Esse gesto de mãos não poderia ser usado por outra pessoa senão o verdadeiro herdeiro DEPOIS da coroação. Sem isso o gesto seria simplesmente falso. Algumas pessoas quiseram usá-lo para lembrar a vida de Hailé Selassié e para manifestar a esperança de que a monarquia retornasse de seu exílio nos Estados Unidos e se restabelecesse na Etiópia. Alguns fazem o gesto (inocentemente) por ignorância, mas em geral, isso não é habitual na sociedade etíope.


Sobre a visita de Hailé Selassié à Jamaica e sua relação com o movimento Rasta, leiam:
 +
 Sobre os últimos dias de Hailé Selassié (7 páginas) em:
 +
Um portal muito bom sobre a Cultura Jamaicana vocês encontram em:

domingo, 30 de junho de 2013

Assim caminha a Humanidade



OS HUMANOS - A VERDADEIRA AMEAÇA À VIDA NA TERRA
matéria do jornal britânico "The Guardian", junho de 2013.

"Se os níveis populacionais continuam a subir no ritmo atual, os nossos netos vão ver a Terra mergulhada em uma crise ambiental sem precedentes", argumenta o cientista computacional Stephen Emmott, neste extrato de seu livro TEN BILLION:

"A população mundial está projetada para passar a marca de 10 bilhões neste século. A Terra é o lar de milhões de espécies. Apenas uma domina. Nós. Nossa inteligência, a nossa criatividade e nossas atividades têm modificado quase todas as partes do nosso planeta. Na verdade, nós estamos tendo um impacto profundo sobre ele. Na verdade, a nossa inteligência, a nossa criatividade e nossas atividades são agora os condutores de todos os problemas globais que enfrentamos. E cada um desses problemas está se acelerando à medida que continuamos a crescer em direção a uma população global de 10 bilhões. Na verdade, eu acredito que nós podemos justamente chamar a situação em que estamos agora de uma emergência - uma emergência planetária sem precedentes.

Nós, os seres humanos, emergimos como uma espécie cerca de 200 mil anos atrás. Em tempo geológico, isto é realmente incrivelmente recente. Apenas 10 mil anos atrás, havia um milhão de nós. Em 1800, pouco mais de 200 anos atrás, havia 1 bilhão de nós. Em 1960, 50 anos atrás, havia 3 bilhões de nós. Hoje existem mais de 7 bilhões de nós! Em 2050, seus filhos, ou os filhos de seus filhos, estarão vivendo em um planeta com pelo menos 9 bilhões de outras pessoas. Um pouco mais para o fim deste século, haverão pelo menos 10 mil milhões de nós. Possivelmente mais.

Chegamos ao ponto em que estamos aumentando graças aos números da civilização em sua ssociedades em formação, mais notavelmente devido a revolução agrícola, a revolução científica, a revolução industrial e - no Ocidente - a revolução da saúde pública. Em 1980, haviam 4 bilhões de pessoas no planeta. Apenas 10 anos depois, em 1990, haviam 5 bilhões de nós. Neste ponto, os sinais iniciais das consequências de nosso crescimento foram começando a aparecer. Uma das mais importantes foi em relação a água. Nossa demanda por água - e não apenas a água que bebemos, mas a água que é necessária para a produção de alimentos e para fazer todas as coisas que estavam consumindo - estava atravessando o teto. Em 1984, os jornalistas relataram da Etiópia cerca de uma fome de proporções bíblicas causados pela seca generalizada. Seca incomum, e as inundações incomuns, foram aumentando em todos os lugares: Austrália, Ásia, os EUA, a Europa. Água, um recurso vital que sempre fora tão abundante, estava agora de repente se tornando algo que tinha potencial para escassear.

Em 2000 haviam 6 bilhões de pessoas. Tornava-se claro para a comunidade científica do mundo que o acúmulo de CO2, metano e outros gases de efeito estufa na atmosfera - como um resultado do aumento da agricultura, uso da terra e da produção, processamento e transporte de tudo o que estavam consumindo - estava mudando o clima. Como resultado, tivemos um problema sério em nossas mãos, 1998 havia sido o ano mais quente já registrado. Os 10 anos mais quentes já registrados ocorreram desde 1998.

Nós ouvimos o termo "clima" todos os dias, por isso vale a pena pensar sobre o que realmente querem dizer com isso. Obviamente, "clima" não é o mesmo que o tempo. O clima é um dos sistemas de suporte de vida fundamentais da Terra, que determina se ou não nós, seres humanos são capazes de viver neste planeta. Ela é gerada por quatro componentes: a atmosfera (o ar que respiramos), a hidrosfera (água do planeta), a criosfera (as camadas de gelo e geleiras), a biosfera (plantas e animais do planeta). Até agora, nossas atividades começaram a modificar cada um desses componentes. Nossas emissões de CO2 modificam nossa atmosfera. Nosso crescente uso da água começou a modificar a nossa hidrosfera. Aumento da temperaura atmosférica e da superfície do mar começou a modificar a criosfera, principalmente no encolhimento inesperado das camadas de gelo do Ártico e da Groenlândia. O uso cada vez maior de terras, para a agricultura, cidades, estradas, mineração - assim como toda a poluição que estavam criando - tinha começado a modificar a nossa biosfera. Ou, dito de outra forma: nós tínhamos começado a alterar nosso clima.

Há agora mais de 7 bilhões de pessoas na Terra. Como nossos números continuam a crescer, continuamos a aumentar a nossa necessidade de muito mais água, muito mais comida, muito mais terra, muito mais transporte e muito mais energia. Como resultado, estamos acelerando o ritmo a que estamos mudando nosso clima. Na verdade, nossas atividades não são apenas totalmente interligado com mas agora também interagir com o sistema complexo em que vivemos: a Terra. É importante entender como tudo isso está conectado.

Vamos dar uma importante, mas pouco conhecido, aspecto sobre aumentar o uso da água: "a água escondida". Água escondida é a água usada para produzir as coisas que consumimos, mas normalmente não pensam em como contendo água. Tais coisas incluem frango, carne bovina, algodão, carros, chocolate e telefones celulares. Por exemplo: leva cerca de 3 mil litros de água para produzir um hambúrguer. Em 2012, cerca de cinco bilhões de hambúrgueres foram consumidos só no Reino Unido. Isso é 15 trilhões de litros de água - em hambúrgueres. Apenas no Reino Unido. Algo como 14 bilhões de hambúrgueres foram consumidos nos Estados Unidos em 2012. Isso é cerca de 42 trilhões de litros de água. Para produzir hambúrgueres em os EUA. No decorrer de um único ano. Gastam-se cerca de 9 mil litros de água para produzir uma galinha. Só no Reino Unido foram consumidos cerca de um bilhão de frangos em 2012. Gastam-se cerca de 27 mil litros de água para produzir um quilo de chocolate. Isso é cerca de 2.700 litros de água por barra de chocolate. Isso certamente deve ser algo para se pensar enquanto você está enrolado no sofá comendo em seus pijamas.

Mas eu tenho más notícias sobre o pijama. Porque temerosamente o pijama de algodão levam 9 mil litros de água para produzir. E leva 100 litros de água para produzir uma xícara de café. E isso antes de qualquer água, na verdade, ser adicionada ao seu café. Nós provavelmente bebemos cerca de 20 bilhões de xícaras de café no ano passado no Reino Unido. E - ironia das ironias - é preciso algo como quatro litros de água para produzir uma garrafa de plástico de um litro de água. No ano passado, só no Reino Unido, nós compramos, bebemos e jogamos fora 9 bilhões de garrafas plásticas de água. Que é de 36 bilhões de litros de água, usado completamente desnecessariamente. Desperdício de água para produzir garrafas - para a água. E isso leva em torno de 72 mil litros de água para produzir um dos 'chips' que normalmente alimenta o seu computador portátil, Sat Nav, telefone, iPad e seu carro. Haviam mais de dois bilhões desses chips produzidos em 2012. Isto é pelo menos 145 trilhões de litros de água. Em pastilhas semicondutoras. Em suma, estamos consumindo água, assim como a comida, a uma taxa que é completamente insustentável.

A demanda por terra para a comida vai dobrar - pelo menos -, em 2050, e triplicar - pelo menos - até o final deste século. Isto significa que a pressão para eliminar muitas das florestas tropicais remanescentes do mundo para uso humano vai intensificar a cada década, porque este é predominantemente a única terra disponível que resta para a expansão da agricultura em grande escala. A menos que a neve da Sibéria derreta antes de terminar o desmatamento. Em 2050, 1 bilhão de hectares de terra é susceptível de ser liberado para atender às crescentes demandas de alimentos de uma população crescente. Esta é uma área maior do que os EUA. E acompanhando isto haverão três gigatoneladas extras por ano de emissões de CO2. Se a Sibéria não descongelar antes de terminar nosso desmatamento, isto resultaria em uma grande quantidade disponível de nova terra para a agricultura, bem como a abertura de uma fonte muito rica de minerais , metais, petróleo e gás. No processo que certamente mudaria completamente a geopolítica global, o descongelamento da Sibéria iria transformar a Rússia em uma força econômica e política notável neste século por causa de seus minérios a serem explorados, recursos agrícolas e energia. Aconteceria também, inevitavelmente, que seria acompanhada de vastas quantidades de metano - atualmente selado sob a tundra siberiana - sendo liberada, aceleraria muito mais o nosso problema do clima.

Enquanto isso, mais de 3 bilhões de pessoas vão precisar de um lugar para viver. Em 2050, 70% de nós estamos indo viver nas cidades. Este século vai ver a rápida expansão das cidades, bem como o surgimento de cidades totalmente novas que ainda não existem. É importante ressaltar que das 19 cidades brasileiras que dobraram em população na última década, 10 estão na Amazônia Legal. Tudo isso leva a usar ainda mais terras.

No momento não possuímos meios conhecidos de sermos capazes de alimentar 10 bilhões de pessoas em nosso ritmo atual de consumo e com nosso atual sistema agrícola. Na verdade, simplesmente para nos alimentar nos próximos 40 anos, teremos de produzir mais alimentos do que a produção agrícola total dos últimos 10 mil anos juntos. No entanto, a produtividade de alimentos deverá diminuir, possivelmente, muito fortemente, ao longo das próximas décadas, devido a: mudanças climáticas, degradação dos solos e desertificação - ambos os quais estão a aumentar rapidamente em muitas partes do mundo, e estresse hídrico. Até o final deste século, grandes partes do planeta não terá qualquer água utilizável.

Ao mesmo tempo, os setores de transporte e de companhias aéreas globais estão projetados para continuar a expandir-se rapidamente a cada ano, transportando mais de nós, e mais das coisas que queremos consumir, por volta do ano planeta no ano. Isso vai causar enormes problemas para nós em termos de emissões de CO2, mais carbono e mais poluição da mineração e processamento para fazer todas essas coisas.

Mas pense sobre isso. No transporte de pessoas e de nossas coisas em todo o planeta, também estamos criando uma rede altamente eficiente para a propagação global de doenças potencialmente catastróficas. Houve uma pandemia global apenas 95 anos - a pandemia de gripe espanhola, que agora está estimada para ter matado até 100 milhões de pessoas. E isso foi antes uma das nossas inovações mais questionáveis - as companhias aéreas - foram inventadas. A combinação de milhões de pessoas que viajam ao redor do mundo todos os dias, além de outros milhões de pessoas que vivem em extrema proximidade de suínos e aves - muitas vezes na mesma sala, faz com que um novo vírus possa saltar a barreira das espécies - significa que estamos aumentando, significativamente, a probabilidade de uma nova pandemia global. Portanto, não é de admirar, então, que cada vez mais os epidemiologistas concordam que uma nova pandemia global agora é uma questão de "quando" e não de "se".

Nós vamos ter que triplicar - pelo menos - a produção de energia até o final deste século, para atender à demanda esperada. Para atender a essa demanda, precisamos de construir, a grosso modo, algo como: 1.800 das maiores barragens do mundo, ou 23 mil centrais nucleares, turbinas eólicas 14m, painéis solares 36bn, ou apenas continuar com óleo predominantemente, carvão e gás - e construir as 36 mil novas usinas que vamos necessitar. Nossas reservas de petróleo, carvão e gás existentes, só valem trilhões de dólares. Os governos e as empresas de petróleo mais importantes do mundo, carvão e gás - algumas das empresas mais influentes do planeta - vão realmente decidir deixar o dinheiro no chão, enquanto a demanda por energia aumenta implacavelmente? Duvido.

Enquanto isso, o problema do clima emergente segue em uma escala totalmente diferente. O problema é que bem podemos estar caminhando para uma série crítica de "pontos de inflexão" no sistema climático global. Há uma meta global de acordo político - impulsionado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) - limitar o aumento médio global de temperatura a 2 º C. A justificativa para essa meta é que um aumento acima de 2 º C acarreta um risco significativo de uma mudança climática catastrófica que quase certamente causar danos irreversíveis ao planetários "pontos de inflexão", causados por eventos como o derretimento da plataforma de gelo da Groenlândia, a liberação de metano congelado depósitos de tundra ártica, ou a morte da Amazônia. De fato, os dois primeiros estão acontecendo agora - abaixo do limiar de 2 graus centígrados.

Quanto ao terceiro, não estamos à espera de mudanças climáticas para fazer isso: nós estamos fazendo isso agora mesmo através do desmatamento. E a pesquisa recente mostra que olhamos certo para estar caminhando para um aumento maior das temperaturas médias globais do que 2C - um aumento muito maior. Agora, é muito provável que nós estamos olhando para um futuro aumento médio global de 4C - e nós não podemos descartar um aumento de 6C. Isso será absolutamente catastrófico. Ele levará a uma mudança climática descontrolada, capaz de derrubar o planeta em um estado completamente diferente, rapidamente. A Terra se tornaria um inferno. Nas décadas ao longo do caminho, vamos testemunhar extremos sem precedentes no clima, incêndios, inundações, ondas de calor, perda de lavouras e florestas, estresse hídrico e catastróficas elevações do nível do mar. Grandes partes da África vão se tornar áreas de desastre permanentes. A Amazônia poderia ser transformada em savana ou mesmo deserto. E todo o sistema agrícola será confrontado com uma ameaça sem precedentes.

Em países "afortunados", como o Reino Unido, os EUA e a maior parte da Europa, bem pode parecer algo que se aproximam tempos de países militarizados, com controles de fronteira fortemente defendidas destinadas a impedir milhares de pessoas de entrar, as pessoas que estão em movimento porque o seu próprio país não é mais habitável, ou tem água ou comida suficiente, ou está passando por conflitos sobre os recursos cada vez mais escassos. Essas pessoas serão "migrantes climáticos". O termo "migrantes climáticos" é aquele que cada vez mais tem que se acostumar. Na verdade, quem pensa que o estado global emergente de assuntos não têm grande potencial para conflitos civis e internacionais está se iludindo. Não é por acaso que, quase todas as conferências científicas de que tenho ido para discutir a mudança climática tenham agora um novo tipo de participante: o militar.

Todo o caminho que você olha para ele, um planeta de 10 bilhões parece um pesadelo. O que, então, são as nossas opções? A única solução que nos resta é mudar o nosso comportamento, radical e global, em todos os níveis. Em suma, precisamos urgentemente de consumir menos. Muito menos. Radicalmente menos. E nós precisamos conservar mais. Muito mais. Para realizar uma mudança tão radical no comportamento também precisaria ação do governo radical. Mas na medida em que esse tipo de mudança está em causa, os políticos fazem actualmente parte do problema, e não parte da solução, porque as decisões que precisam ser tomadas para implementar a mudança de comportamento significativa inevitavelmente tornar muito impopular políticos - como são todos muito conscientes.

Então, o que os políticos optaram por diplomacia em vez falhou. Por exemplo: A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, cujo trabalho tem sido há 20 anos para garantir a estabilização dos gases de efeito estufa na atmosfera da Terra: Falha. A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, cujo trabalho tem sido por 20 anos para parar de terra deserta degradante e tornando-se: Falha. A Convenção sobre Diversidade Biológica, cujo trabalho tem sido por 20 anos para reduzir a taxa de perda de biodiversidade: Falha. Esses são apenas três exemplos de iniciativas globais falharam. A lista é deprimente longa. E a maneira como os governos justificar esse nível de inércia é através da exploração de opinião pública e de incerteza científica. É usado para ser um caso de "Precisamos esperar para a ciência para provar a mudança climática está acontecendo". Isto agora é fora de dúvida. Então agora é: "Precisamos esperar para os cientistas para ser capaz de nos dizer o que será o impacto e os custos". E, "Precisamos esperar para a opinião pública para obter por trás da ação." Mas os modelos climáticos nunca estará livre de incertezas. E quanto a opinião pública, os políticos sentem extremamente livre para ignorá-lo quando lhes convém - guerras, os bônus dos banqueiros e reformas de saúde, para dar apenas três exemplos.

O que os políticos e os governos dizem sobre o seu compromisso com o combate às alterações climáticas é completamente diferente do que eles estão fazendo sobre isso. Que negócio é esse? Em 2008, um grupo de economistas altamente respeitados e cientistas liderados por Pavan Sukhdev, em seguida, um economista sênior do Deutsche Bank, realizou uma análise econômica autoritária do valor da biodiversidade. Sua conclusão? O custo das atividades de negócios de 3.000 maiores empresas do mundo em perda ou dano à natureza e ao meio ambiente agora está em US$ 2.2tn por ano. E subindo. Estes custos terão de ser pagos no futuro. Por seus filhos e seus netos. Para citar Sukhdev: "As regras de negócio precisam urgentemente serem mudadas, para que as empresas compitam com base na inovação, conservação de recursos e satisfação das múltiplas demandas das partes interessadas, e não com base no que é mais eficaz para influenciar a regulamentação do governo, evitando impostos e obtenção de subsídios para atividades lesivas ao maximizar o retorno para os acionistas." Mas, eu acho que isso vai acontecer? Não. O que dizer de nós?

Confesso que eu costumava achar que é divertido, mas agora estou cansado de ler nos jornais de fim de semana sobre alguma celebridade dizendo: "Eu dei o meu 4×4 e agora eu comprei um Prius. Que eu não estou fazendo a minha parte para o meio ambiente? " Eles não estão fazendo sua parte para o meio ambiente. Mas não é culpa deles. O fato é que eles - nós - não estão sendo bem informado. E isso é parte do problema. Nós não estamos recebendo a informação de que precisamos.A escala e a natureza do problema é simplesmente não ter sido comunicada a nós. E quando somos aconselhados a fazer alguma coisa, que mal faz um dente no problema. Aqui estão algumas das mudanças que já foram feitas para fazer recentemente, por celebridades que gostam de se pronunciar sobre esse tipo de coisa, e por parte dos governos, que devem saber melhor do que dar esse tipo de absurdo como "soluções": Desligar o carregador do telemóvel; mijar no chuveiro (meu favorito), comprar um carro elétrico (não, não), usar duas folhas de rolo de papel higiênico, em vez de três. Todos estes são gestos simbólicos a que escapam o fato fundamental de que a escala e a natureza dos problemas que enfrentamos são imensas, sem precedentes e possivelmente insolúvel.

As mudanças comportamentais que são exigidas de nós são tão fundamentais que ninguém quer fazê-las. Quais são elas? Precisamos consumir menos. Muito menos. Menos alimentos, menos energia, menos material. Menos carros, carros elétricos, camisetas de algodão, notebooks, upgrades de telefonia móvel. Longe fewer.And aqui vale a pena ressaltar que "nós" refere-se às pessoas que vivem no oeste e norte do globo. Atualmente quase 3 bilhões de pessoas no mundo que precisam urgentemente de consumir mais: mais água, mais comida, mais energia. Dizer "Não ter filhos" é absolutamente ridículo. Ela contradiz cada pedaço geneticamente codificadosde informação que contêm, e um dos impulsos mais importantes (e divertido) que temos. Apesar disto, a pior coisa que podemos continuar a fazer - a nível mundial - é ter filhos no ritmo atual. Se a taxa global atual de reprodução continua, até o final deste século, não haverá 10 bilhões de nós. De acordo com as Nações Unidas, a população da Zâmbia está projetada para aumentar em 941% até o final deste século. Projeta-se para a população da Nigéria um crescimento de 349% - de 730 milhões de pessoas. Afeganistão até 242%. República Democrática do Congo 213%. Gambia por 242%. Guatemala por 369%. Iraque até 344%. Quênia por 284%. Libéria em 300%. Malawi por 741%. Mali em 408%. Níger por 766%. Somália por 663%. Uganda por 396%. Iêmen por 299%. Mesmo a população dos Estados Unidos deverá crescer em 54% até 2100, de 315 milhões em 2.012-478,000,000. Eu apenas quero salientar que, se a taxa global atual de reprodução continua até o final deste século, não haverão 10 bilhões de nós - haverão 28 bilhões de nós!

Onde isso nos deixa? Vamos olhá-la assim. Se descobrimos amanhã que havia um asteróide em rota de colisão com a Terra e - porque a física é uma ciência bastante simples - nós fomos capazes de calcular que iria atingir a Terra em 03 de junho de 2072, e nós sabíamos que o seu impacto ia para acabar com 70% de toda a vida na Terra, os governos em todo o mundo iria mobilizar todo o planeta em ação sem precedentes. Todo cientista, engenheiro, universidade e empresa seria de registro: metade para encontrar uma maneira de pará-la, a outra metade para encontrar um caminho para a nossa espécie para sobreviver e reconstruir se a primeira opção não foi bem sucedida. Estamos na situação que quase precisamente agora, excepto que não há uma data específica e não há um asteróide. O problema somos nós. Por que não estamos fazendo mais sobre a situação em que estamos - dada a escala do problema e a urgência necessária - Eu simplesmente não consigo entender. Estamos gastando € 8 bilhões no CERN para descobrir evidências de uma partícula chamada bóson de Higgs, que pode ou não pode, eventualmente, explicar e fornecer uma massa parcial positiva para o modelo padrão da física de partículas. E os físicos do CERN estão ansiosos para nos dizer que é a maior, a experiência mais importante na Terra. Não é. O maior e mais importante experiência na Terra é o que estamos todos realizando, neste momento, na própria Terra. Só um idiota pode negar que existe um limite para quantas pessoas a nossa Terra pode suportar. A questão é, ser sete bilhões (nossa população atual), 10 bilhões ou 28 bilhões? Acho que já passamos do limite. Foi muito ultrapassado.

A ciência é essencialmente ceticismo organizado. Passei a minha vida tentando provar meu trabalho errado ou procurar explicações alternativas para os meus resultados. Chama-se a condição popperiana de falseabilidade. Espero que eu esteja errado. Mas a ciência aponta para que não esteja errado. Nós podemos justamente chamar a situação em que estamos de uma situação de emergência sem precedentes. Precisamos urgentemente de fazer - e eu quero dizer realmente fazer - algo radical para evitar uma catástrofe global. Mas eu não acho que nós vamos. Acho que estamos fodidos. Perguntei a um dos mais racionais, mais brilhantes cientistas que eu conheço - um cientista que trabalha nesta área, um jovem cientista, um cientista no meu laboratório - se houvesse apenas uma coisa que tinha que fazer a respeito da situação que enfrentamos, o que seria ? Sua resposta? "Ensinar meu filho como usar uma arma." 

Este é um trecho editado a partir de TEN BILLION, por Stephen Emmott 

sábado, 22 de junho de 2013

Stairway to Heaven


.
"A NEW DAY WILL DAWN
 FOR THOSE WHO STAND STRONG,
 AND THE FORESTS WILL ECHO WITH LAUGHTER..." 

Coro gregoriano e balé para o clássico do Led Zeppelin, lembrando que, nos antigos mitos gregos os solstícios eram chamados “portas” : a “porta dos homens”, segundo estas crenças helênicas, correspondia ao solstício de verão (do 21 a 22 de junho) enquanto “a porta dos deuses” se dava no solstício de inverno (de 21 a 22 de dezembro)... Impactante,,.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Traspassamento



Um poeta não pode apenas ter domínio da expressão escrita:
deveria, possuir primeiramente,
por respeito aos primórdios,
a fluente expressão oral
 e gestual de quem declama uma canção ao vento...
Um poeta e um celebrante, devem ser eco de si mesmos
No domínio de suas catedrais de ressonância
Como quem lança a palavra como flexa de precisão
Acústica.
Um poeta, um celebrante e um louco, devem dançar
Ao sabor da percepção
Das marés internas e externas em sua interação contínua
No campo energético.
Corrigindo minhas harmonias, percebi-me
E venho buscando aprender ser poeta e instrumento de mim
Também na expressão do afeto.
Não posso reverberar minha poesia se meus momentos de prazer
Todos não forem dedicados a fazer: poesia de cada gesto,
De cada silêncio de cada olhar,
O pão de cada dia, isso que não se vê mas nos preenche,
A nossa arte.
Uma letra, um desenho,
Uma gota que mistura,
Tudo tessituras.
Resta ao poeta o eterno alcançar,
Mas de minha parte, fico satisfeito
Com esta fresta de luz vindo sobre a lã cinza de minha cela,
Com este arpão forjado para segurar e puxar,
Com este alimento do espírito em que eu posso descansar.
Não há heroísmo sem bravura,
Ainda que a esta seja dada toda ternura,
O poeta encontra o gozo em si mesmo encantado,
Traspassado da poesia que o atinge no momento em pausado turbilhão,
E gera a engendração das gerações, a canção das ruas, o panfleto ao chão.
Íntima a hora da morte para quem é avisado de partir,
Mais fina que uma persiana de pestanas, o entreluz
De quem se vai mas se fica no corpo, feita a luz:
E mesmo assim é preciso poesia de si para si, nessa hora
Onde os paramos se acendem na distância de todas as coisas
E a alma expressa a última linha, pois quem é sincero consigo
Ali se saciará da graça na poesia da vida.

Juiz de Fora, 5 de Junho de 2013

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Aloha Ke Akua


"Aloha Ke Akua",música de Nahko (Medicine for the People) - 2012
Video por Nino Canino, com produção visual pelo The Mates Group para Estrellas Del Bicentario.(México).


"Aloha, Aloha Ke Akua, Ke Akua,
Aloha, Aloha, Kuleana, Kuleana.

Each day that I wake,
I will praise, I will praise.
Each day that I wake,
I give thanks, I give thanks.

My solidarity is telling me to patiently
be moving the musical medicine around the planet in a hurry,
Cuz there's no time to waste.
Got to wake up the people time to stand up and say,
we know what we are for
and how we became so informed.
Bodies of info, performing such miracles.
I am a miracle, made up of particles
and in this existence,
I'll stay persistent
and I'll make a difference
and I will have lived it."

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pessoas não humanas



Palavras utilizadas pelo governo hindu: "Os cetáceos são, em linhas gerais muito inteligentes e sensíveis. Cientistas que pesquisaram o comportamento dos golfinhos sugeriram que a inusualmente alta inteligência, em comparação com outros animais, significa que os golfinhos devem ser considerados como pessoas não humanas; e como tais devem ter seus direitos específicos. É moralmente inaceitável mante-los em cativeiro para fins de entretenimento".


terça-feira, 23 de abril de 2013

Desiderium



DIÁLOGO ENTRE SIDÉRIO E SIBÉLIO:

Sidério: Longas eram as manhãs em nosso globo, como longo era o período esperado para o nosso completo amadurecimento enquanto criaturas daquele rincão das estrelas. Atônito, pois, assisto nesta Terra a brevidade dos dias, bem como a imaturidade com que as criaturas daqui se multiplicam e proliferam, reproduzindo uns nos outros a ignorância e a insensatez. Esperam, porventura, eles virem a amadurecer depois de mortos?

Sibélio: A natureza da Terra, meu caro Sidério, foi moldada de acordo com a mesma natureza do Céu que existia no nosso globo de origem, mas seguiu e segue os caminhos que lhe são característicos. Viceja aqui a lei do dualismo, onde os fatores opostos se complementam tanto quanto se contrapõem. A harmonia só surge quando obtemos a visão do que está acima do dual, pois o equilíbrio universal faz-se perceptível pelo discernimento do caminho do meio, quando se compreende que tão importante quanto o negativo ou o positivo é o neutro, o ponto zero, o fiel da balança, o centro livre.

Sidério: Compreendo que todo humano da Terra possua, em hipótese, semelhante oportunidade de conquistar seu amadurecimento, mas deploro que o tempo, bem como o sistema, de vida dessa espécie conspirem contra essa conquista, de onde se originam inúmeros equívocos e superstições coletivas, tais que me parece, a cada geração se estorvar cada vez mais a vida em comum.

Sibélio: Os homens desenvolveram suas habilidades sociais a partir do uso da memória coletiva, mas terminaram por inventar formas de registro dessa memória muito dependentes do elemento humano que as inscreve para os pósteros, do que advieram falsificações e omissões que, seguramente, vêm estorvando o florescimento de suas melhores qualidades.

Sidério: A imaturidade de suas mentes, baseadas em tais alegações fantasiosas de sua literatura prosaica, sequer permite a essas criaturas o desprendimento dos marcos culturais em que foram inicialmente trabalhadas, e apesar de revoltarem-se interiormente contra o sistema de vida que lhes causa sofrimento, a enorme maioria não consegue jamais reconstruir as suas próprias ideias diante de um novo horizonte desconhecido, a não ser em casos extremos de cataclismas, subjugação por guerras sanguinárias ou adesão a algumas doutrinas religiosas ou filosóficas que pregam a alienação da matéria ou a morte em vida.

Sibélio: Mesmo assim, há pensamentos que ganham força ao longo das gerações e em determinado momento podem confluir e proporcionar uma evolução posterior para estes grupos humanos.

Sidério: Me parece, nobre amigo Sibélio, é que toda geração humana quer se sentir especialmente privilegiada por poder em seu momento desenhar o destino posterior do grupo, mas não vejo ganhos afora a vaidade e outros defeitos comuns aos que se sentem “bafejados pela Sorte”, pois pouquíssimas possibilidades têm efetivamente os seres humanos de repassar às gerações seguintes algo que lhes facilite a existência. Toda essa tecnologia de que se vangloriam, é certo que é insustentável no decurso do tempo, portanto não se traduz em verdadeira sabedoria.

Sibélio:  Esta a discussão deste tempo: com quantos seres humanos se faz uma canoa para outro mundo...

(em construção)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Guerra e Paz entre os Xamãs


Durante toda sua carrera, Moebius se inspirou nos xamãs que conheceu em sua juventude no México, como este que aparece em 40 dias no deserto (1990)

Na estrutura dramatúrgica clássica, para que haja enredo é necessário contrapor ao Protagonista um antípoda, o Antagonista. Para que haja diálogo é necessária a controvérsia, para que haja aprendizado é necessário haver o equívoco: a ciência vive de confrontos assim, bem como as religiões. Na filosofia estudamos, em Martin Büber, o Eu e o Tu enquanto jogo de opostos que se atraem e se repelem continuamente. Na antropologia estudamos conceitos de Identidade e Alteridade como parte da estrutura de pensamento de muitas culturas indígenas. A polarização entre Bem e Mal pode chegar aos extremos do chamado Maniqueísmo, que se originou na antiga Pérsia e até hoje influencia muito fundamentalismo de um lado e do outro de muros ideológicos que as nações constroem - para se diferenciar no jogo político-comercial ou para autojustificar heterogeneidades características a serem preservadas (em muitos casos chega a ser uma forma de Resistência cultural).

Na Amazônia, a atividade espiritual dos pajés no domínio de conhecimentos secretos de cada etnia, também impactou-se com o atrito social entre aldeias. Os pajés eram lideranças espirituais e lideranças culturais quanto ao domínio do cerne de suas etnofilosofias, cosmologias e conhecimentos etnobotânicos, e tanto construíam quanto podiam destruir alianças entre aldeias ou grupos familiares. As narrativas falam, por exemplo, que os pajés impunham temor, e se requisitavam a filha de alguém em conúbio, era obrigatório aos pais entregarem-na sob pena de atraírem a maldição do pajé se rejeitado. Contam de pajés que competiam entre si quanto a quem era mais forte ou sabido, e que isto chegou a causar muitas mortes feitas por feitiços. Oscar Calavia Saez nos conta, por exemplo, dos Jaminawa do Estado do Acre, povo aiauasqueiro, que eles sentem o pesar de terem perdido sua cultura porque os seus antigos pajés disputaram tanto entre si que acabaram se matando todos, sem que houvesse restado nenhum. Esta criação de antagonistas dentro da disputa permanente de espaço espiritual ou de um mandato espiritual sobre uma população, também aparece, por exemplo, na parte do Altiplano, onde “guerras entre bruxos” costumam surgir quando da disputa de mandato sobre uma “huaca” ou um local de adoratório tradicional como uma montanha ou um lago. Entendemos o fenômeno como uma espontânea contraposição de interesses, que no caso dos xamãs conduz a duelos à distância, utilizando energia metafísica e paranormal, com ou sem uso de substâncias potencializadoras da energia do pensamento, como a aiauasca ou o sampedro.

No caso da Cultura Acreana da Ayahuasca, como se convencionou englobar os grupos tradicionais bem como os grupos religiosos ou mesmo neófitos usuários dessa bebida etnoterapêutica no Acre, nunca houve disputa entre as instituições até os anos 70, quando cisões internas exacerbaram o sentimento de Protagonismo de cada grupo, destinando o papel de Antagonista ao seu discordante direto (seu não-concordante, melhor dizendo). A semente de discórdia gerou, em cada grupo, energias não compatíveis com a finalidade cristã à qual cada um estava orientado durante a existência de seu Mestre, energias contaminadas por sentimentos de ego, vingança e rancor. A demonização do grupo “rival”, a vontade de alcançar sua exclusão ou eliminação, se deu entre famílias antes irmanadas por um mesmo guia espiritual e que depois de seu falecimento não encontraram mais conciliação e terminaram divergindo. Como o local ou ambiente social que esses grupos compartilhavam era praticamente o mesmo, mais se contrapuseram entre si, numa disputa que deu margem a muito disse-me-disse, muita intriga, muita maldade e sentimentos de conspiração. O que não fazia parte da índole da própria Doutrina que professavam, pois instituição religiosa não é partido político que tenha que ter plataforma de campanha para angariar doações, e muito menos milícia espiritual que queira policiar, impedir ou censurar o intercâmbio fraterno entre indivíduos ou grupos familiares. Só a partir dos anos 90, com a realização do I Congresso Internacional da Ayahuasca, na Universidade Federal do Acre, surgiu uma “détente” capaz de reunir os diferentes grupos em uma mesa comum de discussão sobre seus temas de interesse, deixando de lado particularidades ideológicas para a atenção de metas em comum com relação à proteção legal da sua diversidade religiosa. Com o genérico de Ayahuasca, aceitaram estabelecer regras diplomáticas de convívio.

A demasiada exposição do atual ICEFLU (Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal) nos meios de comunicação, tanto para as boas quanto para as más notícias, lhe deram status de Protagonista da cena aiauasqueira no Brasil a partir dos anos 90. Um protagonismo que superava quaisquer antagonismos deixados no Acre, pois um protagonismo na cena nacional e internacional. Pois bem, mas “prego que muito se destaca é o que mais leva pancada”, diz o popular, e o ICEFLU foi objeto de algumas investidas bem armadas de membros que saíram da sua estrutura descontentes e desagradecidos por mágoas particulares. A emergência das redes sociais e dos grupos de discussão, fez de discussões internas do ICEFLU assunto público, acentuando deste modo sentimentos de autossuficiência e desprezo pelos protocolos de comunicação entre partes discordantes, pois tudo foi precipitado na torrente da web e o único controle possível era ignorar o que se passava do lado de fora. Desta situação se beneficiou um paulista, Emiliano Dias Linhares, que percebeu que tornando-se vozeiro dos antagonismos dispersos nos calhaus da mídia contra o ICEFLU, teria rapidamente tanto destaque quanto o ICEFLU, pois passaria a ser seu principal Antagonista. Subiu ao palco com o título de Xamã Gideon, dizendo ser o dirigente do ICEFLU um Anticristo, e se tornou imediatamente alvo da admiração de uma massa de carentes das grandes cidades que queriam uma aiauasca barata e cômoda para suas rodas de fogueira “xamânicas”. Vestida a fantasia, mesmo sem real conhecimento de base sobre a Doutrina do Mestre Irineu e a Doutrina do Padrinho Sebastião ou mesmo da cultura indígena da ayahuasca (o que se relevava porque, não se colocando como discípulo destes é compreensível como sem ser deles aluno quis ter chegado a professor), toda acusação por ele proferida contra o ICEFLU valeria como uma verdade absoluta pois perfeitamente composta dentro de seu papel de Antagonista, o que conquista certamente simpatias e dividendos. Em terra árida, mesmo água turva é bem vinda.

Às custas desses simpatizantes que nele vêem autoridade por se dedicar a uma Guerra Santa, a uma Cruzada da Fé Aiauasqueira contra o Dragão da Maldade e o Rei da Babilônia, o Xamã Gideon possui hoje toda uma estrutura de mando e comando, com representação em Brasília e inserção nas redes buscando para si um Protagonismo cuja única razão de ser seria esse mal engendrado Antagonismo. Em requintes que lembram as ações paramilicianas da Guerra Fria, chegam a fomentar uma rede de desafetos do ICEFLU para justificar o empreendimento de um combate midiático cuja única finalidade é a propaganda enganosa e o destaque às custas dos erros alheios, como vemos nesse conjunto de peças elencadas pelo espanhol Jorge Pérez em surto paranoico por uma série de desvairios. É uma “Opera Macabra”, a bricolagem de Jorge Pérez, onde se evidencia o perigo dos fundamentalismos e a necessidade de uma ética terapêutica específica para a Ayahuasca, como Deontologia necessária ao acompanhamento de pessoas vítimas de diversas sociopatias. É uma questão extremamente sensível, que tem de levar em conta todos os aspectos da Ética, quanto mais se tratamos de instituições que se autodenominam cristãs. Não, vocês que consideram o Xamã Gideon, esclareçam que não existe nem protagonista nem antagonista nesta cena, não há necessidade de vencedores nem de derrotados, não existe o enredo torpe que serve apenas às manchetes, o que existe no Astral é uma tessitura espiritual, onde estamos sendo todos devidamente avaliados e utilizados para um trabalho de harmonização, existe um equilíbrio entre carma e darma que está sendo refinado é nesta arte, e não há espaço para os fios podres da discórdia, que não sustentam marionetes por muito tempo nem permitem que se expressem com sua própria desenvoltura espiritual.

Fios de ouro são os fios da concórdia, estes se vêem só no astral, estes são escadas e são âncoras, deixam que bailem sem cordas senão as do coração. Cada um que dê conta do seu terreiro, cada terreiro que dê conta dos seus cada um. O irmão Irineu, o irmão Sebastião, eles não labutaram em vão para construir uma história digna da Doutrina, eles deram a própria vida por um imenso amor à humanidade e ao Cristo. Quem quiser fazer sua história própria, não queira construí-la sobre a ruína de outrem, pois é palavra que ninguém pode construir sua felicidade sobre a infelicidade dos outros. Um dom amaldiçoado, esse nunca dá em nada e sempre vai estar faltando para alguém; um dom abençoado, esse rende muito e nunca se acaba para ninguém. Curar os cristãos, para os caboclos que estão chegando, é curar chagas de dois mil anos de história do cristianismo. Não queira ver o outro como teu oponente, cuida primeiro de conhecer tua própria sombra, ou ela também se voltará um dia contra ti. São Francisco de Assis nos predicou a INOFENDIBILIDADE, e grande é a potência de não ser ofendível... Em vez de ganir para a Lua, melhor é cada um cuidar de seu setor sob o Sol. “Não tem bonito nem feio, ele ilumina a todos igual”!  

Conheçam também o artigo "Em defesa de Mestre Alfredo", em Cadernos de Hinário.



a.
1. Ref. ou inerente à morte ou aos mortos; que a expressa, anuncia ou evoca; FÚNEBRE
2. Que desperta horror ou medo (história macabra, figura macabra); TÉTRICO; SINISTRO
3. Diz-se da dança ritual em que a morte é representada com imagens e alegorias.
4. Ligado a coisas ou sentimentos tristes (pensamentos macabros); LÚGUBRE; SOMBRIO
sm.
5. Característica ou qualidade do que é macabro: o macabro no cinema de horror.
[F.: Do fr. macabre (de 'danse macabre')]