quinta-feira, 24 de maio de 2012

A energia da terra nos alimenta!


O folclorista Câmara Cascudo registra alguns mitos indígenas brasileiros sobre a mandioca. São eles:
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1ª Lenda da Mandioca (por Câmara Cascudo):
Entre os Parecis de Mato Grosso, a história é a seguinte: “Zatiamare e sua esposa Kôkôtêrô tiveram um par de filhos - o menino Zôkôôiê e uma menina, Atiolô - que era desprezada pelo pai, que a ela nunca falava senão por assobios. Amargurada pelo desprezo paterno, a menina pediu à mãe que a enterrasse viva; esta resistiu ao estranho apelo, mas ao fim de certo tempo, atendeu-a: a menina foi enterrada no cerrado, onde o calor a desagradou, e depois no campo, também lugar que a incomodara. Finalmente, foi enterrada na mata onde foi do seu agrado; recomendou à mãe para que não olhasse quando desse um grito, o que ocorreu após algum tempo. A mãe acorreu ao lugar, onde encontrou um belo e alto arbusto que ficou rasteiro quando ela se aproximou; a índia Kôkôtêrô, porém, cuidou da planta que mais tarde colheu do solo, descobrindo que era a mandioca”.

2ª Lenda da Mandioca:
 “Entre os Bacairis a lenda conta de um veado que salvara o bagadu (peixe da família Practocephalus) que para recompensá-lo deu-lhe mudas da mandioca que tinha ocultas sob o leito do rio. O veado conservou a planta para alimentação de sua família, mas o herói dos bacairis, Keri, conseguiu pegar do animal a semente que distribuiu entre as mulheres da tribo

Câmara Cascudo relembra que o mito tupi de Mani foi registrada em 1876, por Couto de Magalhães, da seguinte forma:

3ª Lenda da Mandioca:
"Em tempos idos, apareceu grávida a filha dum chefe selvagem, que residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade Santarém. O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa, descobrindo-se e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno, desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra afinal fendeu-se, cavaram-na e julgaram reconhecer, no fruto que encontraram, o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca como alimento".


A Mandioca foi a principal espécie agrícola dos indígenas brasileiros difundido pelo mundo. Com uma produção acima de 170 milhões de toneladas, hoje a mandioca constitui uma das principais explorações agrícolas do mundo. Entre as tuberosas, perde apenas para a batata. Nos trópicos, essa importância aumenta. Dentre os continentes, a África (53,32%) é o maior produtor mundial, seguido pela Ásia (28,08%), Américas (18,49%) e Oceania (0,11%). Quanto ao rendimento, destacam-se a Ásia (14,37 t/ha) e as Américas (12,22 t/ha), seguidas pela Oceania (11,57 t/ha) e África (8,46 t/ha)

Na última década, durante uma viagem de coleta de plantas na Amazônia o pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, de Brasília, conheceu uma variedade de mandioca que em vez de amido tem grande quantidade de açúcares na raiz. Esses açúcares são, em sua maior parte, glicose, que é o substrato utilizado no processo de fermentação para a produção do etanol. A variedade descoberta pelo pesquisador é na realidade uma mutação genética, guardada e usada pelos índios brasileiros antes mesmo de os portugueses chegarem ao Brasil, para obtenção de bebida alcoólica. “Eles usavam a bebida, chamada caxirim, nas cerimônias religiosas e nas celebrações”, diz o pesquisador.

A planta mutante, após um processo tradicional de seleção de variedades e cruzamento com plantas adaptadas a algumas regiões escolhidas para futuros plantios, resultou em uma variedade que dispensa o processo de hidrólise do amido da mandioca para transformação em açúcar e conversão em álcoois, inclusive ocarburante para o combustível. “A eliminação da hidrólise do amido reduz em torno de 30%  o consumo de energia no processo de produção de etanol de mandioca”, diz Carvalho.

Apesar do lobby do etanol da cana-de-açúcar possuir grande importância no Agrobusiness, seria interessante uma mobilização das redes sociais para recordar ao atual presidente da FAO, José Graziano da Silva, que dirigiu no Brasil o Programa Fome Zero, que, ao se discutir na Rio+20 o uso da terra para produção de alimento ou energia, será importantissimo ressaltar que a pesquisa da Embrapa permite conciliar ambos usos e oferecer, principalmente ao continente africano, uma alternativa concreta à monocultura da cana-de-açúcar, já que a mandioca é possível produzir consorciada com milho e feijão, e é um verdadeiro trunfo brasileiro para o futuro da humanidade.

Fontes: EMBRAPA e ACAS. Vejam e leiam também: ETANOL DE MANDIOCA (Globo Rural), ETANOL DE MACAXEIRA PODE SER MAIS BARATO DO QUE CANA e UM LOBBY EXEMPLAR PARA O ETANOL .

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Asas balançam com o ar


Não me reconheço ao espelho. Este o primeiro passo da individuação reversa, aplicada ao entendimento lacaniano como transversalidade do eu no hiperespaço textual moderno. Sou o que sou, eis a questão. Soo o que de mim ressoo, ressoo o que de mim soa. Há hai-kais instantâneos no ar, platiformes farfalhas quais tapetes voadores de filigrana. Translúcido transluzente: o presente ausente. Não me reconheço ao espelho. Não são minhas estas cicatrizes, não serviram a minha identificação, por elas não me irão encontrar... Meus rastros desaparecem em um ponto, não foi preciso camuflagem depois do súbito desprendimento do plano da trilha. Lá não estarão meus ossos, e nem nos arquivos digitais. Homônimos e heterônimos por ventura desfarão desfaçatezas alheias, e tudo como dantes permanecerá silente sobre a pessoa que se inaugurou tantas vezes em nome da Criação. Não se sabe como esta história termina, e é provável que ela não termine, pois o contínuo é invisível aos olhos e não jaz no coração. Por isso não me reconheço ao espelho, essas notas taquigráficas me são indecifráveis posto que não me compreendem tampouco, elas próprias inclemências da natureza. Tento brilhar o intento de mostrar minha luz, e essa expressão me seduz no ínterim fugidio de cada letra arremessada pela janela, garrafa de náufrago boiando em meio ao lixo espacial. Não sou especial, sou como um xenófobo terraquiano com paúra de insetos gigantes, apesar de poder sorver Kafka com certo sabor. Passa o tempo numa roda gigante, cheguei ao fundo de mim e já começo a levantar. Ashé Babá!...