quinta-feira, 10 de maio de 2012

Asas balançam com o ar


Não me reconheço ao espelho. Este o primeiro passo da individuação reversa, aplicada ao entendimento lacaniano como transversalidade do eu no hiperespaço textual moderno. Sou o que sou, eis a questão. Soo o que de mim ressoo, ressoo o que de mim soa. Há hai-kais instantâneos no ar, platiformes farfalhas quais tapetes voadores de filigrana. Translúcido transluzente: o presente ausente. Não me reconheço ao espelho. Não são minhas estas cicatrizes, não serviram a minha identificação, por elas não me irão encontrar... Meus rastros desaparecem em um ponto, não foi preciso camuflagem depois do súbito desprendimento do plano da trilha. Lá não estarão meus ossos, e nem nos arquivos digitais. Homônimos e heterônimos por ventura desfarão desfaçatezas alheias, e tudo como dantes permanecerá silente sobre a pessoa que se inaugurou tantas vezes em nome da Criação. Não se sabe como esta história termina, e é provável que ela não termine, pois o contínuo é invisível aos olhos e não jaz no coração. Por isso não me reconheço ao espelho, essas notas taquigráficas me são indecifráveis posto que não me compreendem tampouco, elas próprias inclemências da natureza. Tento brilhar o intento de mostrar minha luz, e essa expressão me seduz no ínterim fugidio de cada letra arremessada pela janela, garrafa de náufrago boiando em meio ao lixo espacial. Não sou especial, sou como um xenófobo terraquiano com paúra de insetos gigantes, apesar de poder sorver Kafka com certo sabor. Passa o tempo numa roda gigante, cheguei ao fundo de mim e já começo a levantar. Ashé Babá!...    

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