terça-feira, 23 de abril de 2013

Desiderium



DIÁLOGO ENTRE SIDÉRIO E SIBÉLIO:

Sidério: Longas eram as manhãs em nosso globo, como longo era o período esperado para o nosso completo amadurecimento enquanto criaturas daquele rincão das estrelas. Atônito, pois, assisto nesta Terra a brevidade dos dias, bem como a imaturidade com que as criaturas daqui se multiplicam e proliferam, reproduzindo uns nos outros a ignorância e a insensatez. Esperam, porventura, eles virem a amadurecer depois de mortos?

Sibélio: A natureza da Terra, meu caro Sidério, foi moldada de acordo com a mesma natureza do Céu que existia no nosso globo de origem, mas seguiu e segue os caminhos que lhe são característicos. Viceja aqui a lei do dualismo, onde os fatores opostos se complementam tanto quanto se contrapõem. A harmonia só surge quando obtemos a visão do que está acima do dual, pois o equilíbrio universal faz-se perceptível pelo discernimento do caminho do meio, quando se compreende que tão importante quanto o negativo ou o positivo é o neutro, o ponto zero, o fiel da balança, o centro livre.

Sidério: Compreendo que todo humano da Terra possua, em hipótese, semelhante oportunidade de conquistar seu amadurecimento, mas deploro que o tempo, bem como o sistema, de vida dessa espécie conspirem contra essa conquista, de onde se originam inúmeros equívocos e superstições coletivas, tais que me parece, a cada geração se estorvar cada vez mais a vida em comum.

Sibélio: Os homens desenvolveram suas habilidades sociais a partir do uso da memória coletiva, mas terminaram por inventar formas de registro dessa memória muito dependentes do elemento humano que as inscreve para os pósteros, do que advieram falsificações e omissões que, seguramente, vêm estorvando o florescimento de suas melhores qualidades.

Sidério: A imaturidade de suas mentes, baseadas em tais alegações fantasiosas de sua literatura prosaica, sequer permite a essas criaturas o desprendimento dos marcos culturais em que foram inicialmente trabalhadas, e apesar de revoltarem-se interiormente contra o sistema de vida que lhes causa sofrimento, a enorme maioria não consegue jamais reconstruir as suas próprias ideias diante de um novo horizonte desconhecido, a não ser em casos extremos de cataclismas, subjugação por guerras sanguinárias ou adesão a algumas doutrinas religiosas ou filosóficas que pregam a alienação da matéria ou a morte em vida.

Sibélio: Mesmo assim, há pensamentos que ganham força ao longo das gerações e em determinado momento podem confluir e proporcionar uma evolução posterior para estes grupos humanos.

Sidério: Me parece, nobre amigo Sibélio, é que toda geração humana quer se sentir especialmente privilegiada por poder em seu momento desenhar o destino posterior do grupo, mas não vejo ganhos afora a vaidade e outros defeitos comuns aos que se sentem “bafejados pela Sorte”, pois pouquíssimas possibilidades têm efetivamente os seres humanos de repassar às gerações seguintes algo que lhes facilite a existência. Toda essa tecnologia de que se vangloriam, é certo que é insustentável no decurso do tempo, portanto não se traduz em verdadeira sabedoria.

Sibélio:  Esta a discussão deste tempo: com quantos seres humanos se faz uma canoa para outro mundo...

(em construção)

Nenhum comentário: