Durante toda sua carrera, Moebius se inspirou nos xamãs que conheceu em sua juventude no México, como este que aparece em 40 dias no deserto (1990)
Na estrutura dramatúrgica
clássica, para que haja enredo é necessário contrapor ao Protagonista um
antípoda, o Antagonista. Para que haja diálogo é necessária a controvérsia,
para que haja aprendizado é necessário haver o equívoco: a ciência vive de
confrontos assim, bem como as religiões. Na filosofia estudamos, em Martin Büber, o Eu e o Tu enquanto jogo de opostos que se atraem e se repelem
continuamente. Na antropologia estudamos conceitos de Identidade e Alteridade
como parte da estrutura de pensamento de muitas culturas indígenas. A
polarização entre Bem e Mal pode chegar aos extremos do chamado Maniqueísmo,
que se originou na antiga Pérsia e até hoje influencia muito fundamentalismo de
um lado e do outro de muros ideológicos que as nações constroem - para se
diferenciar no jogo político-comercial ou para autojustificar heterogeneidades
características a serem preservadas (em muitos casos chega a ser uma forma de
Resistência cultural).
Na Amazônia, a atividade
espiritual dos pajés no domínio de conhecimentos secretos de cada etnia, também
impactou-se com o atrito social entre aldeias. Os pajés eram lideranças
espirituais e lideranças culturais quanto ao domínio do cerne de suas
etnofilosofias, cosmologias e conhecimentos etnobotânicos, e tanto construíam
quanto podiam destruir alianças entre aldeias ou grupos familiares. As
narrativas falam, por exemplo, que os pajés impunham temor, e se requisitavam a
filha de alguém em conúbio, era obrigatório aos pais entregarem-na sob pena de
atraírem a maldição do pajé se rejeitado. Contam de pajés que competiam entre
si quanto a quem era mais forte ou sabido, e que isto chegou a causar muitas
mortes feitas por feitiços. Oscar Calavia Saez nos conta, por exemplo, dos
Jaminawa do Estado do Acre, povo aiauasqueiro, que eles sentem o pesar de terem
perdido sua cultura porque os seus antigos pajés disputaram tanto entre si que acabaram se matando todos, sem que houvesse restado nenhum. Esta criação de
antagonistas dentro da disputa permanente de espaço espiritual ou de um mandato
espiritual sobre uma população, também aparece, por exemplo, na parte do
Altiplano, onde “guerras entre bruxos” costumam surgir quando da disputa de
mandato sobre uma “huaca” ou um local de adoratório tradicional como uma
montanha ou um lago. Entendemos o fenômeno como uma espontânea contraposição de
interesses, que no caso dos xamãs conduz a duelos à distância, utilizando
energia metafísica e paranormal, com ou sem uso de substâncias
potencializadoras da energia do pensamento, como a aiauasca ou o sampedro.
No caso da Cultura Acreana da
Ayahuasca, como se convencionou englobar os grupos tradicionais bem como os
grupos religiosos ou mesmo neófitos usuários dessa bebida etnoterapêutica no
Acre, nunca houve disputa entre as instituições até os anos 70, quando cisões
internas exacerbaram o sentimento de Protagonismo de cada grupo, destinando o
papel de Antagonista ao seu discordante direto (seu não-concordante, melhor
dizendo). A semente de discórdia gerou, em cada grupo, energias não compatíveis
com a finalidade cristã à qual cada um estava orientado durante a existência de
seu Mestre, energias contaminadas por sentimentos de ego, vingança e rancor. A
demonização do grupo “rival”, a vontade de alcançar sua exclusão ou eliminação,
se deu entre famílias antes irmanadas por um mesmo guia espiritual e que depois
de seu falecimento não encontraram mais conciliação e terminaram divergindo.
Como o local ou ambiente social que esses grupos compartilhavam era
praticamente o mesmo, mais se contrapuseram entre si, numa disputa que deu
margem a muito disse-me-disse, muita intriga, muita maldade e sentimentos de
conspiração. O que não fazia parte da índole da própria Doutrina que
professavam, pois instituição religiosa não é partido político que tenha que
ter plataforma de campanha para angariar doações, e muito menos milícia
espiritual que queira policiar, impedir ou censurar o intercâmbio fraterno
entre indivíduos ou grupos familiares. Só a partir dos anos 90, com a
realização do I Congresso Internacional da Ayahuasca, na Universidade Federal
do Acre, surgiu uma “détente” capaz de reunir os diferentes grupos em uma mesa
comum de discussão sobre seus temas de interesse, deixando de lado
particularidades ideológicas para a atenção de metas em comum com relação à
proteção legal da sua diversidade religiosa. Com o genérico de Ayahuasca,
aceitaram estabelecer regras diplomáticas de convívio.
A demasiada exposição do atual
ICEFLU (Igreja do Culto Eclético da Fluente Luz Universal) nos meios de
comunicação, tanto para as boas quanto para as más notícias, lhe deram status
de Protagonista da cena aiauasqueira no Brasil a partir dos anos 90. Um
protagonismo que superava quaisquer antagonismos deixados no Acre, pois um
protagonismo na cena nacional e internacional. Pois bem, mas “prego que muito
se destaca é o que mais leva pancada”, diz o popular, e o ICEFLU foi objeto de
algumas investidas bem armadas de membros que saíram da sua estrutura
descontentes e desagradecidos por mágoas particulares. A emergência das redes
sociais e dos grupos de discussão, fez de discussões internas do ICEFLU assunto
público, acentuando deste modo sentimentos de autossuficiência e desprezo pelos
protocolos de comunicação entre partes discordantes, pois tudo foi precipitado
na torrente da web e o único controle possível era ignorar o que se passava do
lado de fora. Desta situação se beneficiou um paulista, Emiliano Dias Linhares,
que percebeu que tornando-se vozeiro dos antagonismos dispersos nos calhaus da
mídia contra o ICEFLU, teria rapidamente tanto destaque quanto o ICEFLU, pois
passaria a ser seu principal Antagonista. Subiu ao palco com o título de Xamã
Gideon, dizendo ser o dirigente do ICEFLU um Anticristo, e se tornou
imediatamente alvo da admiração de uma massa de carentes das grandes cidades
que queriam uma aiauasca barata e cômoda para suas rodas de fogueira
“xamânicas”. Vestida a fantasia, mesmo sem real conhecimento de base sobre a
Doutrina do Mestre Irineu e a Doutrina do Padrinho Sebastião ou mesmo da
cultura indígena da ayahuasca (o que se relevava porque, não se colocando como
discípulo destes é compreensível como sem ser deles aluno quis ter chegado a
professor), toda acusação por ele proferida contra o ICEFLU valeria como uma
verdade absoluta pois perfeitamente composta dentro de seu papel de
Antagonista, o que conquista certamente simpatias e dividendos. Em terra árida,
mesmo água turva é bem vinda.
Às custas desses simpatizantes
que nele vêem autoridade por se dedicar a uma Guerra Santa, a uma Cruzada da Fé
Aiauasqueira contra o Dragão da Maldade e o Rei da Babilônia, o Xamã Gideon
possui hoje toda uma estrutura de mando e comando, com representação em
Brasília e inserção nas redes buscando para si um Protagonismo cuja única razão
de ser seria esse mal engendrado Antagonismo. Em requintes que lembram as ações
paramilicianas da Guerra Fria, chegam a fomentar uma rede de desafetos do
ICEFLU para justificar o empreendimento de um combate midiático cuja única
finalidade é a propaganda enganosa e o destaque às custas dos erros alheios,
como vemos nesse conjunto de peças elencadas pelo espanhol Jorge Pérez em surto
paranoico por uma série de desvairios. É uma “Opera Macabra”, a bricolagem de
Jorge Pérez, onde se evidencia o perigo dos fundamentalismos e a necessidade de
uma ética terapêutica específica para a Ayahuasca, como Deontologia necessária
ao acompanhamento de pessoas vítimas de diversas sociopatias. É uma questão
extremamente sensível, que tem de levar em conta todos os aspectos da Ética,
quanto mais se tratamos de instituições que se autodenominam cristãs. Não, vocês
que consideram o Xamã Gideon, esclareçam que não existe nem protagonista nem
antagonista nesta cena, não há necessidade de vencedores nem de derrotados, não
existe o enredo torpe que serve apenas às manchetes, o que existe no Astral é uma
tessitura espiritual, onde estamos sendo todos devidamente avaliados e
utilizados para um trabalho de harmonização, existe um equilíbrio entre carma e
darma que está sendo refinado é nesta arte, e não há espaço para os fios podres
da discórdia, que não sustentam marionetes por muito tempo nem permitem que se
expressem com sua própria desenvoltura espiritual.
Fios de ouro são os fios da
concórdia, estes se vêem só no astral, estes são escadas e são âncoras, deixam que bailem sem cordas senão as do coração. Cada um que dê conta do seu
terreiro, cada terreiro que dê conta dos seus cada um. O irmão Irineu, o irmão
Sebastião, eles não labutaram em vão para construir uma história digna da
Doutrina, eles deram a própria vida por um imenso amor à humanidade e ao
Cristo. Quem quiser fazer sua história própria, não queira construí-la sobre a
ruína de outrem, pois é palavra que ninguém pode construir sua felicidade sobre
a infelicidade dos outros. Um dom amaldiçoado, esse nunca dá em nada e sempre
vai estar faltando para alguém; um dom abençoado, esse rende muito e nunca se
acaba para ninguém. Curar os cristãos, para os caboclos que estão chegando, é
curar chagas de dois mil anos de história do cristianismo. Não queira ver o
outro como teu oponente, cuida primeiro de conhecer tua própria sombra, ou ela
também se voltará um dia contra ti. São Francisco de Assis nos predicou a
INOFENDIBILIDADE, e grande é a potência de não ser ofendível... Em vez de ganir
para a Lua, melhor é cada um cuidar de seu setor sob o Sol. “Não tem bonito nem
feio, ele ilumina a todos igual”!
Conheçam também o artigo "Em defesa de Mestre Alfredo", em Cadernos de Hinário.
Conheçam também o artigo "Em defesa de Mestre Alfredo", em Cadernos de Hinário.
a.
1. Ref. ou inerente à morte ou aos mortos; que a expressa, anuncia ou evoca; FÚNEBRE
2. Que desperta horror ou medo (história macabra, figura macabra); TÉTRICO; SINISTRO
3. Diz-se da dança ritual em que a morte é representada com imagens e alegorias.
4. Ligado a coisas ou sentimentos tristes (pensamentos macabros); LÚGUBRE; SOMBRIO
sm.
5. Característica ou qualidade do que é macabro: o macabro no cinema de horror.
[F.: Do fr. macabre (de 'danse macabre')]
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