Pontos de vista estritamente culturais: o planeta Terra não possui parte de cima ou parte de baixo, não tem cabeça nem pés – a representação cartográfica ocidental é que desenha o hemisfério norte na parte superior, enquanto a antiga tradição oriental ilustra o hemisfério sul na parte de cima de seus mapas. Em verdade, o pólo magnético positivo do planeta está na Antártida, e o negativo no Círculo Ártico. Nesta foto recente da NASA, que invertemos, imaginamos como desde o espaço poderia ser enxergada a Península do Yucatán, e suas águas verdes, como um ponto estratégico na espinha dorsal de dois continentes: a Amazônia e os Andes assim nos aparecem ao fundo, entre nuvens. Mudando o ponto de referência, a visão muda e a compreensão da visão se amplia.
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A grande matrix que te sujeita é a cultura que formatou teu modo de conhecimento. A grande matrix que nos tem escravos é a matriz cultural que nos enquadra. Todo o construto das diferentes culturas humanas procura servi-las como alicerce: propagam-se definidamente em direção a um termo infinitivo, que por guardar semelhança com seu próprio princípio pretende ser compreendido ou apreendido como uma conexão com a Criação Divinal. Isso explica porque religião e teatro surgem ao mesmo tempo, assim como antes religiosidade e música haviam despertado juntas no coração do bicho-homem: manifestaram-se como celebrações da identidade cultural de uma coletividade espelhada em si e em contraponto em relação às demais identidades por ela reconhecíveis como membros de uma coletividade maior ou não. O horizonte mais amplo de uma humanidade planetária ainda está sendo esclarecido e compreendido pelas culturas do planeta, e sua ignorância está diretamente ligada às manipulações do sistema econômico mundial sobre a vida cotidiana das pessoas e que a influenciam com programações mentais de consumismo de massa, descartabilidade das relações humanas e paradogmas como “Tempo é Dinheiro” e outros memes.
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O que sabe tocar o espírito do homem é a Cultura, e neste intuito é que as culturas ancestrais, enquanto as primeiras construções de identidades étnicas, foram sempre forjadas pelos pajés, xamãs, sacerdotes, os poetas e professores de cada povo, pois eruditos sempre se instruíram entre estes poucos agraciados pelas conjunturas sociais de trabalho, que podiam encontrar tempo de se dedicar à interiorização necessária para a concepção da arte identitária e o exercício da filosofia. Vir a interpretar todos tais construtos culturais (cuja permanência no tempo reforçou um aspecto mágico de imortalidade) como propostas salvíficas ou escatológicas, talvez seja caso de mera miopia etnocêntrica, mas é bem verdade que em muitos casos se apresenta uma ideia de renovação comparável à redenção do ideário cristão. O pináculo da Torre de Babel pode, entretanto, sinalizar que o que os construtos culturais pretendem é “tocar a fonte da Criação”, e como isto é utopia, toda cultura muito fechada em si como uma torre tenderá a colapsar em sua estrutura e fragmentar-se em culturas que perdem então a capacidade de dialogar umas com as outras. O refazer do processo construtivo só se torna então possível com a mudança da estrutura original para outro diagrama de composição e outras vias de ação.
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"O Astronauta", geoglifo do Vale de Nazca, no Peru
.Os complexos sistemas culturais ao longo de gerações sempre enfrentam transformações e contingências adversas pelas quais têm de se adaptar, em muitos casos se mesclar, pois ou buscam sobreviver ou são extintos. Impressionante é que seres humanos pereçam ao longo de todas as suas vidas por injunção de choques culturais promovidos pela interação ou competição econômica entre nações, e que um número ainda maior deles termine vitimado pelo próprio sistema cultural na conjunção tempo/espaço em que nasceu e que hostiliza, reprime ou impede uma livre expressão de suas personalidades ou habilidades.
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A revolução tecnológica hodierna vem possibilitando a formação de uma Cultura de Convergência, teorizada por Henry Jenkins em 2007. Mas o vislumbre de uma Cultura Humana global, multidimensional e multidiversa, só será possível quando a interface dessas matrizes culturais se reconverter em uma outra harmônica espacial. Será este o nosso grande dever de casa? Sabemos que a Terra, mãe de todos, mãe de nós e mãe dos outros, agradecerá a cada um que abrir as portas da consciência a esta nova Sincronia.
"O Sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Momentos de espr'ança e da vontade,
Buscar um linha fina do Horizonte -
A árvore, a praia, a flor, a ave, a ponte
- Os beijos merecidos da verdade"
("Horizonte", poema de Fernando Pessoa )
Para participar do projeto de criação de uma Aldeia Multi-Étnica modelar no Estado do Acre, Amazônia, Brasil, entrem em contato: ecognose@gmail.com
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